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M&A Community no Brasil – Ed. #83

Brazil 18 min read
Author
Luca Rossi

A Equatorial saiu do setor de transmissão. Sorrateiramente, na noite da sexta-feira (04/04), a empresa lançou a bomba: uma transação de BRLm 5 bi passou 100% da Equatorial Transmissão para o CDPQ. São mais de BRL 9 bi em enterprise value e marca um movimento de desinvestimento que busca reduzir alavancagem, reduzindo a dívidade para x2,9 Ebitda. E claro, é mais grana para M&A. 

E essa transação mostra um respiro em um momento conturbado para os mercados. As tarifas anunciadas por Donald Trump pegam os fundos de capital privado em momento difícil, mas o cenário de incerteza pode se traduzir em oportunidades para o M&A brasileiro. 

Mas isso não é tudo que aconteceu nessa quinzena. Também vimos movimentações estratégicas, como: 

  1. A Alianza, uma das principais gestoras de ativos imobiliários no Brasil, atraiu um dos maiores fundos soberanos do mundo, o GIC, para uma joint venture no setor de data centers. Com um investimento de BRL 2 bi, o GIC será o maior acionista da parceria, que buscará consolidar ativos de sale and leaseback e built-to-suit no Brasil.
  2. O BTG Pactual escreveu um cheque de BRLm 800 para comprar o Pátio Malzoni, um dos endereços mais disputados do Brasil. O metro quadrado na Faria Lima (SP) foi avaliado em BRL 50 mil, e o fundão arrematou 11 andares. 
  3. Duas fazendas por BRL 2 bi. Foi isso que o Bom Futuro pagou na Fazenda Itaipu e Tupi Barão, em sua última aquisição bilionária. As fazendas já estavam sob operação do grupo por meio de contratos de arrendamento e, juntas, elas somam mais de 28 mil hectares agricultáveis

Boa leitura!

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Deals Highlights

Entre 3 e 14 de abril.

Número de deals identificados: 33

Valor total divulgado: BRL 10.626 bi

TypeIndustryTargetBuyerSeller
01

Takeover

TMT

Red Cerberus

TestFly

TinyBuild

02

Takeover

Industry

Grupo LRB

Killing

Private Shareholders

03

Takeover

TMT

Escala 24×7

Stefanini

Private Shareholders

04

Takeover

Energy

Equatorial Transmissão

CDPQ

Equatorial

05

Joint Venture

Consumer

(Nova sociedade/parceria)

Morana & BSG

06

Minority Stake

FIG

3A Riva

XP

Equatorial

07

Minority Stake

Healthcare/Pharma

Aliança (6,57%)

Braslight

Nelson Tanure

08

Joint Venture

TMT

(Nova plataforma de data centers)

Alianza, GIC

09

Minority Stake

FIG

Rands (20%)

Pátria

Randoncorp

10

Minority Stake

FIG

Paag

BS2

Private Shareholders

11

Asset Acquisition

Real Estate

Terreno

XP Asset

Private Shareholders

12

Takeover

TMT

TaxBook

ROIT

Private Shareholders

13

Asset Acquisition

Healthcare/Pharma

Laboratório da Unimed Leste Fluminense

Grupo Tommasi

Unimed Leste Fluminense

14

Asset Acquisition

Real Estate

Pátio Malzoni (11 andares)

BTG Pactual

Bluestone

15

Asset Acquisition

Consumer

Super Alegria (3 lojas)

Rede Tischler

Super Alegria

16

Merger

Services

(Nova empresa)

Davos e Sirius

17

Asset Acquisition

Healthcare/Pharma

Fresenius (Negócios de injetáveis + operação logística)

EMS

Fresenius

18

Takeover

Services

Faculdade (nome não divulgado)

Eu Me Banco

Private Shareholders

19

Asset Acquisition

Real Estate

Hotel Hilton Garden Inn

CVPar Investimentos Ltda

HBR Realty

20

Takeover

Agribusiness

Spezzia

Fortlev

Private Shareholders

21

Takeover

Industry

Gramperfil (Portugal)

CSN

Private Shareholders

22

Takeover

TMT

Jurídico Certo

Elevia

Jusbrasil

23

Minority Stake

TMT

Super Afiliados

Eightroom

Private Shareholders

24

Asset Acquisition

Agribusiness

Fazendas Itaipu e Tupi Barão

Grupo Bom Futuro

Private Shareholders

25

Takeover

TMT

Edtech

CPV

Enrico Gazola e sócios

26

Takeover

FIG

Siena

Alper Seguros

Private Shareholders

27

Joint Venture

Infrastructure

(Nova companhia p/ terminal no Pecém)

Ultragaz, Supergasbras

28

Takeover

Services

Zero Carbon Logistics

Lenarge

Private Shareholders

29

Asset Acquisition

Consumer

Toda Tinda (4 lojas)

Tintas MC

TodaTinta

30

Takeover

TMT

Rethink

Framework Digital

Private Shareholders

31

Asset Acquisition

Industry

Rosalia (2 plantas e bens móveis da massa falida)

Kicaldo

Rosalito

32

Takeover

Industry

Schuster

Henry Schein

Família Schuster

33

Minority Stake

TMT

RapidPlay

Bragg (EUA)

Private Shareholders

Tarifas causam convulsões no mercado global; mas a adversidade dos outros pode ser a oportunidade do Brasil

Você, como todo mercado, deve ter passado por fortes emoções na última quinzena. E não é por menos. Vimos o crescimento das tensões globais, impulsionadas pelas tarifas anunciadas pelo governo norte-americano, e a ameaça de uma possível recessão está deixando dealmarkers em alerta. Agora, sei que está esperando um editorial sobre o clima de incerteza e possível pessimismo que esse cenário causa. Mas, hoje, vou fazer diferente. 

Antes de tudo, vale fazer uma recapitulação do cenário geral, e ele realmente não nos aponta para marés calmas. A nova política tarifária dos EUA, liderada por Donald Trump, derrubou bolsas , reacendeu temores de recessão global e adicionou mais uma pitada de incerteza a um mercado já fragilizado. Isso não é especulação, mas uma mensagem clara dos próprios mercados. 

Os dias seguintes ao anúncio das tarifas foram marcados por convulsões globais. Ações, títulos e commodities oscilaram violentamente com o impacto financeiro causado pelo medo. A queda apagou cerca de USD 10 tri dos mercados em todo o mundo, com o S&P 500 oscilando perigosamente enquanto as esperanças cresciam, mas rapidamente desapareciam. Na Ásia, o Índice Hang Seng caiu 13%, o maior tombo desde 1997.

Tarifas criaram ambiente propício para “tempestade perfeita”

Historicamente, recessões no mercado norte-americano impactam o mundo todo. Com a maior economia global desacelerando, a tendência é de fuga para ativos mais seguros — dólar, franco suíço, ouro e treasuries — e queda na liquidez dos mercados de risco. Para o Brasil, isso significa menor fluxo de capital para startups, especialmente nas rodadas maiores, além de um ambiente mais desafiador para CVCs e inovação aberta em setores exportadores.

Tudo isso chegou em um momento em que o mercado de capital privado já vinha experimentando vacas magras. O PE global, por exemplo, sofre com a baixa tração. Já adiantamos na Edição #81, mas novos dados reforçam o momento delicado do setor.

Depois de bater recordes em 2021, em 2024 a captação de recursos caiu pelo terceiro ano seguido e alcançou o menor nível desde 2015. Foram USD 680 bi arrecadados, uma queda de 30% frente a 2023. 

A perspectiva de juros elevados por mais tempo e a menor previsibilidade global reforçam a seletividade nas alocações. Outro desafio está na dificuldade de saída nos investimentos anteriores e o descompasso de expectativas entre compradores e vendedores. O cenário que se montou foi de liquidez e cautela.

Brasil nada contra a maré global

Você já deve ter imaginado que o M&A também sentiu de perto todo esse cenário. Nos EUA, que respondem metade das transações globais, o volume de operações na T1 25 caiu 13%, para USD 436,56 bi. E, sim, dá para atribuir a culpa para as tarifas. 

Se o principal mercado está sofrendo, era de se imaginar que isso chegasse no Brasil. A incerteza no mercado nacional não é de hoje, sentimento que também é alimentado pelo receio da reforma tributária, que entra em vigor em 2025, afete o M&A ao gerar efeitos em valuations e estratégias de investidores. Mas parece que todo mundo está apontando para o contrário. 

A economia doméstica está mostrando certa resiliência, com o mercado continuando aquecido. A lista de quem advoga a favor começa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele destacou fatores como o robusto saldo comercial e reservas cambiais expressivas como vantagens competitivas do Brasil em um ambiente externo adverso. 

  • O mercado também parece compartilhar dessa perspectiva. Benchim, da XP, afirma que mesmo com a instabilidade global e a guerra tarifária, valuation baixo torna o Brasil uma oportunidade (mas desde que o país faça o “dever de casa”);
  • André Lion, CIO da Ibiuna Investimentos, afirma que o Brasil vem sentindo menos impacto da decisão do presidente americano por estar  relativamente melhor posicionado, apesar do aumento dos juros e outros fatores que trouxemos na Edição #82.
  • Já um estudo de Ronaldo Rodrigues, da Zaxo, analisou mais de 20 mil transações realizadas entre 1990 e 2023 e chegou à conclusão que recessões globais tendem a aquecer o M&A em mercados emergentes, incluindo o Brasil. 

A ideia é que os valuations baixos, somados pela possibilidade de crescimento que ativos adquiridos em momentos de crise e consequente queda no Enterprise Value apresentam, vão transformar o país em um terreno favorável para negociações. Isso não significa que não podemos esperar a fuga de alguns investidores para ativos mais seguros (a alta do dólar é um exemplo disso), mas que o país se torna um refúgio para quem quer lucrar no risco enquanto o mercado norte-americano luta suas próprias batalhas. 

O próprio estudo de Rodrigues já considera isso: levando em conta o efeito das oportunidades de crescimento direto no Enterprise Value, para cada 1% de nas growth options em cenário de incerteza ocorre um aumento de aproximadamente 16% no valor dos negócios, significando aumento no prêmio pago nas aquisições em cenários de elevada incerteza econômica.

Talvez estejamos vivendo um momento em que as incertezas já estejam se transformando em oportunidade. Janeiro fechou com uma queda de transações, mas aparentemente fevereiro compensou esse amargor. Enquanto dados da T1 25 ainda estão sendo consolidados, já vemos aquilo que aponta para um crescimento no M&A brasileiro

O número de transações subiu mais de 40% em fevereiro de 2024, com destaque para empresas de tecnologia, e o crescimento também está no valor transacionado. Dados da TTR Data também reforçam esse otimismo. Com 399 operações na T1 25, contra 376 mapeadas na T1 24

Se a tendência vai se confirmar ou não, depende da sua disposição de assinar cheques. Mas o deal da Equatorial ajuda a sustentar esse otimismo. A venda de 100% da Equatorial Transmissão para o fundo canadense CDPQ reforçou essa atratividade de ativos brasileiros, mesmo em um cenário global turbulento. A única coisa que falta para confirmar essa tendência é a sua disposição, dealmaker, em fechar negócios. 

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New Funds

OwnerFundCategoryExpected AUM
01

Primus Ventures

Sul Ventures

VC

USDm 100

02

Plug and Play

VC

USDm 50

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Market Trends 

A temporada de IPOs nos EUA começou promissora, mas travou – e com força

StubHub, Klarna (avaliada em USD 15 bi), Medline (USD 50 bi) e até a eToro estavam com tudo pronto para estrear na bolsa. Só que os planos foram congelados após o anúncio das novas tarifas agressivas de Trump. O mercado sentiu: o S&P 500 afundou 11% em três dias e o VIX, o “índice do medo”, bateu níveis que não víamos desde o caos da pandemia em 2020.

Nas mesas de negociação, o clima é de paralisia. Os bankers estão literalmente tentando recalcular a rota, sem qualquer visibilidade sobre quando — ou se — o mercado volta a andar.Enquanto isso, empresas seguram ofertas e investidores apertam o cinto. A Klarna e a Medline, que estavam entre as maiores apostas do ano, pausaram tudo. Não é só aversão ao risco: é pânico com potencial de virar tendência.

Para quem opera M&A, o recado é claro: esse cenário de juros altos e volatilidade extrema exige timing e sangue frio. E, claro, bons contatos. Porque em tempos assim, pouca gente fala — mas todo mundo observa.

Fonte: Bloomberg

Mesmo com menos investimento, startups seed-strapping mostram caminho para a sustentabilidade

Nos últimos anos, o foco do mundo das startups esteve em alcançar o status de unicórnio, com empresas buscando crescimento acelerado e avaliações superiores a USD 1 bi. No entanto, muitas dessas empresas agora enfrentam desafios para manter a lucratividade, surgindo os chamados “unicórnios zumbis”. 

Em resposta a essa realidade, a tendência do seed-strapping tem ganhado força. Nesse modelo, startups levantam apenas uma única rodada de financiamento e priorizam a lucratividade e eficiência de capital desde o início, evitando rodadas múltiplas de investimento. 

A chave para o sucesso não está mais apenas no capital, mas na execução estratégica e na adaptação às condições de mercado. Fundadores adotam uma mentalidade de “camelo”, construindo negócios sustentáveis e resilientes. Ao focar em crescimento orgânico, controle e adaptação, o seed-strapping se apresenta como um caminho promissor para as startups do futuro.

Fonte: NeoFeed

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Deu o que falar…

  1. Maurício Quadrado desiste de comprar o Digimais em meio a um cenário instável. Criador do BlueBank a partir da cisão do Banco Master, Quadrado avaliou que o cenário atual é desfavorável para uma aquisição desse porte, optando por recuar diante das incertezas do setor
  2. Após críticas de minoritários, Carrefour melhora proposta para fechar capital do Atacadão e adia votação. A proposta em dinheiro subiu de BRL 7,70 para BRL 8,50 por ação, o que representa um prêmio de 46,2% sobre o preço médio das ações (maior do que os 32% oferecidos antes)
  3. O BC parece não estar feliz com o Master. Regulador e bancões discutem alterações no FGC para proteger o fundo de ofertas arriscadas realizadas por bancos pequenos
  4. Mais um RJ no agro, e dessa vez já era anunciado. O Grupo Safras pediu recuperação judicial, solicitando 180 dias na suspensão de ações e execuções contra matrizes e filiais
  5. Novo capítulo no drama da Hypera: o CADE suspendeu todos os direitos políticos da EMS, rejeitando a tese de que a farmacêutica de Carlos Sanchez seria um mero investidor financeiro
  6. Regis Dubrule, fundador da Tok&Stok, criticou a OPA na Mobly, chamando-a de “última cartada”. Ele busca eliminar a poison pill para reverter a venda e retomar o controle da marca

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