Já esperada por muito, a recuperação judicial da 2W Ecobank pode ser um sinal do destino do M&A brasileiro em 2025. Não foi só essa quinzena que foi extremamente pouco movimentada, mas toda a Q1. Enquanto dados apontam queda no volume e valor das transações, o distressed M&A parece estar ganhando espaço em um cenário de crescente endividamento e valuations em queda livre.
Mas enquanto uns choram, outros riem. A Rede D’Or acaba de vender sua participação na GSH. A CVC Capital Partners — dona de investimentos como Moove e Delly’s no Brasil — vai comprar 100% da empresa por um enterprise value de BRL 1.59 bi. A fatia da Rede D’Or de 41% rende BRLm 650, pouco menos de 1% do market cap de BRL 67 bi. O ativo não era core, mas rendeu: a Rede entrou sem aportes, só abrindo seus hospitais para a operação.
E para apimentar as próximas semanas: a Totvs voltou ao páreo pela Linx. Após outros players saírem do jogo, fechou exclusividade com a Stone para tentar levar o ativo.
Mas isso não é tudo que aconteceu nessa quinzena. Também vimos movimentações estratégicas, como:
- O BTG Pactual adquiriu a área de wealth management da JGP, incorporando BRL 18 bi em ativos sob assessoria. Com a transação, o BTG fortalece sua atuação no segmento, ampliando sua área de family office e private banking em cerca de 20%. A aquisição também trouxe 25 novos executivos para a instituição, que se tornarão sócios ou executivos do banco.
- A SEC aprovou o registro da JBS para listagem na Bolsa de Nova York e na B3, marcando um passo estratégico para destravar valor e acessar investidores globais.
Boa leitura!
Deals Highlights
Entre 16 e 29 de abril
Número de deals identificados: 11
Valor total divulgado: BRL 2,29 bi
Selic perto de 15,25%? O que parece um freio pode, na verdade, redesenhar o mapa das oportunidades
A Selic segue em alta e pode atingir até 15,25% nas próximas reuniões do Banco Central. A notícia é essa. E ela pode causar pânico em alguns, mas não é a primeira vez que trazemos na M&A Community a contrapartida do pensamento disruptivo mudando o jogo para muitos dealmakers.Segundo a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, o impacto da guerra tarifária pode gerar uma incerteza que leva o BC a adotar uma postura mais cautelosa, sem cortar a taxa de imediato. Mas, ao olhar para o futuro, acredita que a partir de dezembro há espaço para ajustes, mantendo a inflação na meta de 3% até 2027.
Enquanto isso, o mercado de M&A também sente os efeitos dessa realidade. O juro alto vem gerando um impacto direto nos valuations, o que torna o ambiente mais seletivo e com transações mais racionais. Para quem tem caixa ou acesso a alternativas como o venture debt, o cenário pode ser visto como uma janela de oportunidades.Os dados do Q1 já refletem esse cenário: o volume total transacionado caiu para USD 6,86 bi, uma redução de 24,4% em comparação com os USD 9,09 bi do período anterior.

Essa contração está diretamente ligada ao cenário de incertezas geopolíticas, incluindo a guerra tarifária, somada à volatilidade regulatória e eleitoral em mercados-chave da região – como destacado por Pedro da Costa, líder de M&A da Aon para a América Latina. Segundo ele, embora setores como tecnologia e infraestrutura ainda ofereçam oportunidades, a avaliação de riscos se tornou mais rigorosa, reflexo do ambiente macroeconômico desafiador. Esse cenário reduziu, inclusive, a participação do VC nas transações. Apesar de ainda serem os grande investidores em tech, os fundos (assim como todo o resto) viram sua participação reduzir no cenário de VC brasileiro.

E há mais: o clima de incerteza também favorece o surgimento de ativos estressados, que, para investidores com visão de longo prazo, podem se transformar em excelentes oportunidades. O que parece ser um freio, de fato, pode estar abrindo um novo mapa de possibilidades.
Hora de garimpar: ativos estressados ganham espaço no radar dos investidores
Fora do Brasil, a tensão é palpável. O sell-off nos mercados dos EUA tem deixado muitos investidores se perguntando se chegou o momento de entrar ou se o mais sensato é aguardar. No Brasil, o cenário é um pouco diferente, mas igualmente desafiador. O Brasil enfrenta o peso da inadimplência crescente e de um ciclo de juros elevados, o que tem afetado especialmente setores como o varejo, construção civil e pequenas exportadoras. Para muitas dessas empresas, a falta de liquidez está forçando reestruturações e, até, liquidações forçadas.
Antes de seguir adiante, também vale abrir espaço para outro alerta importante: a inadimplência entre as empresas brasileiras voltou a bater recorde. De acordo com a Serasa Experian, 7,2 milhões de negócios estavam inadimplentes em 2024 — o maior número já registrado. Só entre micro e pequenas empresas, foram 6,8 milhões.

No total, as dívidas somadas ultrapassaram BRL 164 bi, um salto de BRL 9 bi em apenas um mês. Não é um dado isolado: como lembra a economista Camila Abdelmalack, o segundo mês seguido de alta reflete os juros ainda pesados, o crédito cada vez mais restrito e uma economia que anda a passos lentos.

É nesse cenário que surge uma grande oportunidade para fundos especializados. A desalavancagem forçada, combinada com a escassez de capital e a necessidade urgente de financiamento, tende a gerar distorções de preço, abrindo um terreno fértil para quem está disposto a agir com paciência, apetite ao risco e uma análise criteriosa de fundamentos. Os ativos estressados, em momentos como esse, podem se transformar nas maiores oportunidades para os investidores mais estratégicos.
- O Pitchbook aponta que as tarifas de Trump geraram volatilidade nos mercados, elevando os custos de capital. Investidores aguardam normalização, enquanto oportunidades em ativos em dificuldades surgem devido à incerteza e impactos econômicos das tarifas.
- CEOs alertam que o aumento de tarifas e custos de commodities fará produtos, como Kit Kats, fraldas e carros, ficarem mais caros, com empresas repassando os custos para os consumidores, embora o cenário de consumo seja incerto.
- A guerra tarifária está forçando os VCs a reavaliar suas estratégias. O fluxo de negócios transnacionais diminui, com investidores priorizando campeões regionais. Startups locais têm uma chance maior de prosperar em um mundo mais protecionista.
Um exemplo dessa dinâmica pode ser observado na 2W Ecobank, que recentemente enfrentou sérios desafios financeiros. Após uma tentativa frustrada de negociar com seus credores via mediação, a empresa tomou o caminho judicial, protocolando um pedido de recuperação judicial no valor de BRL 2,4 bi. A medida visa suspender a execução das dívidas por 180 dias. A 2W Ecobank, que opera tanto como geradora quanto comercializadora de energia, já havia tentado um plano de recuperação extrajudicial no ano passado, mas encontrou dificuldades, especialmente em obter apoio de credores chave como o Credit Suisse, que foi adquirido pelo UBS.
Endividadas, mas não desacreditadas: startups recorrem à dívida para atravessar crise de juros e incerteza global
O Brasil não está sozinho nesse movimento. Com a inadimplência em alta e a perspectiva de juros ainda elevados, muitas startups, tanto no Brasil quanto no exterior, têm buscado alternativas para atravessar esse momento desafiador. Nos Estados Unidos, por exemplo, o venture debt se tornou uma solução atraente para muitas startups, que preferem recorrer à dívida em vez de enfrentar rodadas de equity com valuations deprimidos. Setores como IA e cloud têm se destacado, com recordes de captação de recursos em 2024.

No Brasil, a situação não é tão simples. Com a inadimplência e a expectativa de um juro que pode chegar a 15,5%, muitas empresas se veem com menos opções de crédito. Mas isso não significa que a criatividade financeira não tenha espaço para florescer. Startups e empresas em dificuldades estão buscando alternativas, como alongamento de prazos de pagamento ou novas fontes de financiamento. O que vemos, tanto aqui quanto no exterior, é que a crise está exigindo mais ousadia, flexibilidade e uma tolerância maior ao risco para continuar navegando neste cenário de incertezas.
Esses movimentos podem parecer desafiadores, mas, para quem sabe onde procurar, eles podem representar grandes oportunidades. O ciclo de juros elevados e a incerteza global podem, na verdade, abrir portas para quem tem paciência e visão estratégica.
New Funds
Market Trends
A Captação de investimentos na América Latina começou promissora, mas estagnou
A confusão no cenário econômico tem dificultado uma retomada mais robusta das rodadas de investimentos no Brasil e na América Latina. No primeiro trimestre de 2025, startups da região captaram USDm 767,4, o que representa quedas de 6,7% no número de rodadas e 34,2% no volume em comparação com o mesmo período do ano anterior. A instabilidade econômica e a expectativa de juros elevados fazem com que investidores hesitem, aguardando um cenário mais claro para 2025.
No Brasil, que responde por 65% das rodadas na América Latina, os resultados foram mistos: o número de rodadas caiu 27,7%, mas o volume investido aumentou 5%. O destaque foi a Music.AI, que captou USDm 40. As startups que conseguiram atravessar esse momento difícil estão se destacando por seus modelos de negócios mais sólidos e rentáveis, atraindo cheques maiores.
Enquanto isso, as aquisições ganham força. Com menos rodadas de investimentos, empresas mais consolidadas estão aproveitando o momento para consolidar o mercado e se preparar para futuras oportunidades de IPO.
Fonte: Neofeed
O Excesso de apostas em IA está criando riscos para investidores – e isso também pode acontecer no Brasil
Investidores estão preocupados em perder o mercado de IA. No primeiro trimestre de 2024, 57,9% dos investimentos globais em startups de VC foram para IA e machine learning, de acordo com o PitchBook. Maria Palma, da Freestyle Capital, destaca que o medo nunca foi tão grande. A maior parte do capital foi para a América do Norte, que recebeu 70,2% dos investimentos. Globalmente, a IA arrecadou USD 73,1 bi, mais da metade do total esperado para 2024. A rodada da OpenAI, liderada pelo SoftBank, gerou USD 40 bi.
Mas o excesso de investimento em IA traz riscos. Nnamdi Okike, da 645 Ventures, alerta que isso pode resultar em grandes perdas. O foco exagerado em “crescimento a qualquer custo” pode afastar as startups da construção de negócios sustentáveis, sem considerar a rentabilidade real. A grande questão: os investidores estão se desconectando da realidade ao injetar capital sem entender os fundamentos econômicos dessas novas tecnologias – algo que pode ser um alerta para o mercado brasileiro, onde a busca por inovações também está aquecida, mas com desafios econômicos próprios.
Além disso, uma pesquisa feita pela SaaSholic, com 400 startups da América Latina, mostra que 87% dessas empresas já incorporaram IA em suas operações, e aquelas que mais utilizam IA têm um crescimento mais acelerado, evidenciando a tendência crescente do uso da tecnologia na região. Contudo, o estudo também alerta para a necessidade de alinhar inovação com sustentabilidade e foco em resultados reais, algo que pode ser um risco em mercados mais voláteis, como o brasileiro.
Fonte: Pitchbook e Brazil Journal
Deu o que falar…
- Na Azzas, a equipe jurídica se expande em meio a rearranjo entre controladores. Empresa e conselho contratam assessores; Birman e Jatahy buscam acordo sobre governança, evitando mudança societária no primeiro momento.
- Após tentativa fracassada de acordo via mediação, a 2W Ecobank pediu recuperação judicial no RJ, com dívidas de BRL 2,4 bi. Entre os maiores credores estão Credit Suisse, BTG, Sumitomo e Santander.
- O tribunal do Cade decidiu reavaliar o acordo de compartilhamento de voos entre Azul e Gol, apontando possível nexo associativo que exige uma análise mais profunda do contrato.
- A Justiça de Mato Grosso anulou a compra de fazenda pelo BTG por preço vil; propriedade vale hoje mais de BRL 1 bi e teria sido arrematada por BRLm 130.
- O Cade admitiu a Petlove como terceira interessada na análise da fusão entre Petz e Cobasi, após a empresa apontar riscos à concorrência e questionar a definição do mercado relevante.
- A Ducoco, tradicional produtora de derivados de coco, entrou em recuperação judicial com dívida de cerca de BRLm 670 após enfrentar má gestão financeira, alta de custos e prejuízo em parceria com a WOW Nutrition.
Agronegócio
Consumo
Intenções e Estratégias
- Na Azzas, tropa jurídica aumenta em meio a rearranjo entre controladores
- Na reestruturação do St Marche, controle do L Catterton será diluído
- A deslistagem do Carrefour Brasil foi aprovada por 59% dos acionistas do free float; a companhia ofereceu BRL 8,50 por ação, com prêmio de 46,2% sobre a média recente.
M&A
- Cacau Show desenbolsou BRLm 138 por um espaço de 550 mil metro quadrados á beira da Rodovia Castelo Branco, em São Paulo. O vendedor foi o empresário Gilson Leite de Araújo
- Alexandre Brett e David Bobrow adquiriram, em pessoa física, 40% da rede de moda masculina Austral, marcando a primeira sociedade entre os dois empresários.
- A São Carlos renegociou a venda de 25 ativos de varejo da Best Center por BRLm 383,5, com parte paga em dinheiro e parte em cotas de um novo FII; a empresa seguirá como consultora imobiliária do fundo.
Fundraising
FIG
Intenções e Estratégias
M&A
- O BTG Pactual comprou a área de wealth management da JGP, incorporando BRL 18 bi em ativos e 25 executivos. A operação, que pode ter girado em torno de BRLm 180, reforça a estratégia do BTG de consolidar o mercado de family offices e private banking
- Fintech Dock compra DM SCD para entrar no mercado de crédito
- A Fiserv firmou acordo para adquirir a fintech brasileira Money Money, especializada em crédito para PMEs, visando expandir sua atuação no Brasil; a conclusão depende de aprovações regulatórias.
Fundraising
Infraestrutura
Intenções e Estratégias
M&A
Real Estate
Saúde
Intenções e Estratégias
M&A
- A Rede D’Or vendeu sua participação de 41% na GSH para a CVC Capital Partners por cerca de BRLm 650, encerrando um investimento iniciado em 2015. A transação avaliou a GSH em BRL 1,59 bi e marca o primeiro aporte da CVC no setor de saúde na América Latina.
- O Grupo IBG, por meio de sua incubadora IBG Lab, adquiriu uma participação na Doucéa, marca francesa de dermocosméticos pediátricos, para impulsionar sua expansão na Europa, Oriente Médio e Ásia.
Serviços
Intenções e Estratégias
TMT
Intenções e Estratégias
M&A
- A Vórtx recebeu investimento das gestoras Hix Capital e Treecorp para impulsionar seu crescimento inorgânico; novos sócios também indicarão conselheiro brasileiro para reforçar presença local no board
- João Camargo, sócio da CNN Brasil, adquiriu uma participação na Agência Infra, ampliando sua presença no setor de mídia e infraestrutura.
- A Prime Control adquiriu a Infinit.fy, especializada em SAP BTP e inteligência artificial, para impulsionar crescimento inorgânico e projeta faturar BRLm 60 em 2025, com novos investimentos e aquisições