A Equatorial saiu do setor de transmissão. Sorrateiramente, na noite da sexta-feira (04/04), a empresa lançou a bomba: uma transação de BRLm 5 bi passou 100% da Equatorial Transmissão para o CDPQ. São mais de BRL 9 bi em enterprise value e marca um movimento de desinvestimento que busca reduzir alavancagem, reduzindo a dívidade para x2,9 Ebitda. E claro, é mais grana para M&A.
E essa transação mostra um respiro em um momento conturbado para os mercados. As tarifas anunciadas por Donald Trump pegam os fundos de capital privado em momento difícil, mas o cenário de incerteza pode se traduzir em oportunidades para o M&A brasileiro.
Mas isso não é tudo que aconteceu nessa quinzena. Também vimos movimentações estratégicas, como:
- A Alianza, uma das principais gestoras de ativos imobiliários no Brasil, atraiu um dos maiores fundos soberanos do mundo, o GIC, para uma joint venture no setor de data centers. Com um investimento de BRL 2 bi, o GIC será o maior acionista da parceria, que buscará consolidar ativos de sale and leaseback e built-to-suit no Brasil.
- O BTG Pactual escreveu um cheque de BRLm 800 para comprar o Pátio Malzoni, um dos endereços mais disputados do Brasil. O metro quadrado na Faria Lima (SP) foi avaliado em BRL 50 mil, e o fundão arrematou 11 andares.
- Duas fazendas por BRL 2 bi. Foi isso que o Bom Futuro pagou na Fazenda Itaipu e Tupi Barão, em sua última aquisição bilionária. As fazendas já estavam sob operação do grupo por meio de contratos de arrendamento e, juntas, elas somam mais de 28 mil hectares agricultáveis
Boa leitura!
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Deals Highlights
Entre 3 e 14 de abril.
Número de deals identificados: 33
Valor total divulgado: BRL 10.626 bi
Tarifas causam convulsões no mercado global; mas a adversidade dos outros pode ser a oportunidade do Brasil
Você, como todo mercado, deve ter passado por fortes emoções na última quinzena. E não é por menos. Vimos o crescimento das tensões globais, impulsionadas pelas tarifas anunciadas pelo governo norte-americano, e a ameaça de uma possível recessão está deixando dealmarkers em alerta. Agora, sei que está esperando um editorial sobre o clima de incerteza e possível pessimismo que esse cenário causa. Mas, hoje, vou fazer diferente.
Antes de tudo, vale fazer uma recapitulação do cenário geral, e ele realmente não nos aponta para marés calmas. A nova política tarifária dos EUA, liderada por Donald Trump, derrubou bolsas , reacendeu temores de recessão global e adicionou mais uma pitada de incerteza a um mercado já fragilizado. Isso não é especulação, mas uma mensagem clara dos próprios mercados.
Os dias seguintes ao anúncio das tarifas foram marcados por convulsões globais. Ações, títulos e commodities oscilaram violentamente com o impacto financeiro causado pelo medo. A queda apagou cerca de USD 10 tri dos mercados em todo o mundo, com o S&P 500 oscilando perigosamente enquanto as esperanças cresciam, mas rapidamente desapareciam. Na Ásia, o Índice Hang Seng caiu 13%, o maior tombo desde 1997.
Tarifas criaram ambiente propício para “tempestade perfeita”
Historicamente, recessões no mercado norte-americano impactam o mundo todo. Com a maior economia global desacelerando, a tendência é de fuga para ativos mais seguros — dólar, franco suíço, ouro e treasuries — e queda na liquidez dos mercados de risco. Para o Brasil, isso significa menor fluxo de capital para startups, especialmente nas rodadas maiores, além de um ambiente mais desafiador para CVCs e inovação aberta em setores exportadores.
Tudo isso chegou em um momento em que o mercado de capital privado já vinha experimentando vacas magras. O PE global, por exemplo, sofre com a baixa tração. Já adiantamos na Edição #81, mas novos dados reforçam o momento delicado do setor.

Depois de bater recordes em 2021, em 2024 a captação de recursos caiu pelo terceiro ano seguido e alcançou o menor nível desde 2015. Foram USD 680 bi arrecadados, uma queda de 30% frente a 2023.

A perspectiva de juros elevados por mais tempo e a menor previsibilidade global reforçam a seletividade nas alocações. Outro desafio está na dificuldade de saída nos investimentos anteriores e o descompasso de expectativas entre compradores e vendedores. O cenário que se montou foi de liquidez e cautela.
- O Pitchbook aponta para uma Ásia em pânico. A região recebeu as novas tarifas do Trump com amargor. Investimentos foram pausados, exits atrasados e a necessidade dos GPs em reimaginar supply-chains virou algo latente;
- O CFO da McKinsey reforça a perspectiva da consultoria, o executivo prevê que tarifas causarão “tremores” no crescimento dos lucros e supply-chains;
- Sobrou até para as criaturas místicas. O PE global e o receio dos conflitos tarifárias fizeram com que unicórnios sofressem dificuldades em captação de recursos, valuation e até seguir operando. Atualmente, há 1.200 desses “zumbicórnios” apoiados VC que não fizeram IPO ou M&A.
Brasil nada contra a maré global
Você já deve ter imaginado que o M&A também sentiu de perto todo esse cenário. Nos EUA, que respondem metade das transações globais, o volume de operações na T1 25 caiu 13%, para USD 436,56 bi. E, sim, dá para atribuir a culpa para as tarifas.
Se o principal mercado está sofrendo, era de se imaginar que isso chegasse no Brasil. A incerteza no mercado nacional não é de hoje, sentimento que também é alimentado pelo receio da reforma tributária, que entra em vigor em 2025, afete o M&A ao gerar efeitos em valuations e estratégias de investidores. Mas parece que todo mundo está apontando para o contrário.
A economia doméstica está mostrando certa resiliência, com o mercado continuando aquecido. A lista de quem advoga a favor começa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele destacou fatores como o robusto saldo comercial e reservas cambiais expressivas como vantagens competitivas do Brasil em um ambiente externo adverso.
- O mercado também parece compartilhar dessa perspectiva. Benchim, da XP, afirma que mesmo com a instabilidade global e a guerra tarifária, valuation baixo torna o Brasil uma oportunidade (mas desde que o país faça o “dever de casa”);
- André Lion, CIO da Ibiuna Investimentos, afirma que o Brasil vem sentindo menos impacto da decisão do presidente americano por estar relativamente melhor posicionado, apesar do aumento dos juros e outros fatores que trouxemos na Edição #82.
- Já um estudo de Ronaldo Rodrigues, da Zaxo, analisou mais de 20 mil transações realizadas entre 1990 e 2023 e chegou à conclusão que recessões globais tendem a aquecer o M&A em mercados emergentes, incluindo o Brasil.
A ideia é que os valuations baixos, somados pela possibilidade de crescimento que ativos adquiridos em momentos de crise e consequente queda no Enterprise Value apresentam, vão transformar o país em um terreno favorável para negociações. Isso não significa que não podemos esperar a fuga de alguns investidores para ativos mais seguros (a alta do dólar é um exemplo disso), mas que o país se torna um refúgio para quem quer lucrar no risco enquanto o mercado norte-americano luta suas próprias batalhas.
O próprio estudo de Rodrigues já considera isso: levando em conta o efeito das oportunidades de crescimento direto no Enterprise Value, para cada 1% de nas growth options em cenário de incerteza ocorre um aumento de aproximadamente 16% no valor dos negócios, significando aumento no prêmio pago nas aquisições em cenários de elevada incerteza econômica.
Talvez estejamos vivendo um momento em que as incertezas já estejam se transformando em oportunidade. Janeiro fechou com uma queda de transações, mas aparentemente fevereiro compensou esse amargor. Enquanto dados da T1 25 ainda estão sendo consolidados, já vemos aquilo que aponta para um crescimento no M&A brasileiro.
O número de transações subiu mais de 40% em fevereiro de 2024, com destaque para empresas de tecnologia, e o crescimento também está no valor transacionado. Dados da TTR Data também reforçam esse otimismo. Com 399 operações na T1 25, contra 376 mapeadas na T1 24.
Se a tendência vai se confirmar ou não, depende da sua disposição de assinar cheques. Mas o deal da Equatorial ajuda a sustentar esse otimismo. A venda de 100% da Equatorial Transmissão para o fundo canadense CDPQ reforçou essa atratividade de ativos brasileiros, mesmo em um cenário global turbulento. A única coisa que falta para confirmar essa tendência é a sua disposição, dealmaker, em fechar negócios.
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New Funds
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Market Trends
A temporada de IPOs nos EUA começou promissora, mas travou – e com força
StubHub, Klarna (avaliada em USD 15 bi), Medline (USD 50 bi) e até a eToro estavam com tudo pronto para estrear na bolsa. Só que os planos foram congelados após o anúncio das novas tarifas agressivas de Trump. O mercado sentiu: o S&P 500 afundou 11% em três dias e o VIX, o “índice do medo”, bateu níveis que não víamos desde o caos da pandemia em 2020.
Nas mesas de negociação, o clima é de paralisia. Os bankers estão literalmente tentando recalcular a rota, sem qualquer visibilidade sobre quando — ou se — o mercado volta a andar.Enquanto isso, empresas seguram ofertas e investidores apertam o cinto. A Klarna e a Medline, que estavam entre as maiores apostas do ano, pausaram tudo. Não é só aversão ao risco: é pânico com potencial de virar tendência.
Para quem opera M&A, o recado é claro: esse cenário de juros altos e volatilidade extrema exige timing e sangue frio. E, claro, bons contatos. Porque em tempos assim, pouca gente fala — mas todo mundo observa.
Fonte: Bloomberg
Mesmo com menos investimento, startups seed-strapping mostram caminho para a sustentabilidade
Nos últimos anos, o foco do mundo das startups esteve em alcançar o status de unicórnio, com empresas buscando crescimento acelerado e avaliações superiores a USD 1 bi. No entanto, muitas dessas empresas agora enfrentam desafios para manter a lucratividade, surgindo os chamados “unicórnios zumbis”.
Em resposta a essa realidade, a tendência do seed-strapping tem ganhado força. Nesse modelo, startups levantam apenas uma única rodada de financiamento e priorizam a lucratividade e eficiência de capital desde o início, evitando rodadas múltiplas de investimento.
A chave para o sucesso não está mais apenas no capital, mas na execução estratégica e na adaptação às condições de mercado. Fundadores adotam uma mentalidade de “camelo”, construindo negócios sustentáveis e resilientes. Ao focar em crescimento orgânico, controle e adaptação, o seed-strapping se apresenta como um caminho promissor para as startups do futuro.
Fonte: NeoFeed
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Deu o que falar…
- Maurício Quadrado desiste de comprar o Digimais em meio a um cenário instável. Criador do BlueBank a partir da cisão do Banco Master, Quadrado avaliou que o cenário atual é desfavorável para uma aquisição desse porte, optando por recuar diante das incertezas do setor
- Após críticas de minoritários, Carrefour melhora proposta para fechar capital do Atacadão e adia votação. A proposta em dinheiro subiu de BRL 7,70 para BRL 8,50 por ação, o que representa um prêmio de 46,2% sobre o preço médio das ações (maior do que os 32% oferecidos antes)
- O BC parece não estar feliz com o Master. Regulador e bancões discutem alterações no FGC para proteger o fundo de ofertas arriscadas realizadas por bancos pequenos
- Mais um RJ no agro, e dessa vez já era anunciado. O Grupo Safras pediu recuperação judicial, solicitando 180 dias na suspensão de ações e execuções contra matrizes e filiais
- Novo capítulo no drama da Hypera: o CADE suspendeu todos os direitos políticos da EMS, rejeitando a tese de que a farmacêutica de Carlos Sanchez seria um mero investidor financeiro
- Regis Dubrule, fundador da Tok&Stok, criticou a OPA na Mobly, chamando-a de “última cartada”. Ele busca eliminar a poison pill para reverter a venda e retomar o controle da marca
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Movimentações executivas
Indústria
- Claudia Muchaluat, ex-IBM, é nova CRO da Logicalis
- Ricardo Medina deixou sua posição de diretor comercial na ServiceNow no Brasil, posição que ocupava desde 2019
- César Nunes é o novo sócio e vice-presidente executivo do Grupo R1
- 30e anuncia Carol Pascoal como nova CMO e incorpora agência Trovoa
- Rodrigo Coelho é o novo sócio da Nuntius Games
- A Valid Soluções anunciou a saída de Heloisa Aimée Corrêa Sirotá do cargo de Diretora Estatutária Jurídica, de Governança e Controles
Investment and Banking
Agronegócio
Intenções e Estratégias
M&A
Consumo
Intenções e Estratégias
- Após descontentamento de minoritários, Carrefour melhora o preço da sua oferta de deslistagem no Brasil para BRL 8,50 por ação
- Magazine Luiza vai emitir BRL 1 bi em debêntures para investidores profissional. Oferta será registrada no próximo dia 9 de abril
M&A
- Morana faz joint venture com grupo argentino BSG, dono da Todomoda
- Rede Tischler adquiriu três unidades do Super Alegria, localizadas nos municípios de Santa Cruz do Sul e Vera Cruz
- A Tintas MC acaba de adquirir quatro unidades da tradicional rede TodaTinta, localizada em João Pessoa (PB) por BRLm 5
Fundraising
FIG
Intenções e Estratégias
M&A
- XP comprou participação na assessoria 3A Riva, que soma BRL 17 bi sob gestão e custódia
- A Randoncorp vendeu 20% de sua operação de consórcios e seguros para o Pátria por BRLm 320. Gestora também avaliou a unidade de negócios em BRL 1.6 bi
- O BS2 adquiriu uma fatia minoritária relevante na fintech Paag, com oportunidade de comprar a totalidade do negócio em até 3 anos
- A Alper Seguros adquiriu a Siena por um valor não divulgado
Fundraising
Industria
M&A
- Killing compra Grupo LRB em segunda aquisição do ano
- A CSN adquiriu a portuguesa Gramperfil, tendo a Deloitte Legal assessorado os sócios da empresa portuguesa
- A Kicaldo arrematou duas plantas industriais e bens móveis da massa falida da Rosalito, localizadas em São Paulo e Rio Grande do Sul, por BRLm 35.2
- A Henry Schein está comprando o controle da brasileira Schuster da família Schuster
Infraestrutura
Intenções e Estratégias
- Os bancos credores da Novonor querem transferência de garantias da Braskem para fundo independente (o que deixaria a antiga Odebrecht com apenas 4% da empresa)
- Acionistas da Aegea fazem aporte de BRLm 424 com o objetivo de dar fôlego para concessões e reduzir a alavancagem
- A Agea venceu o leilão de saneamento do Pará, conquistando os três blocos ofercidos. Com isso, a companhia assumirá um investimento de BRL 15,2 bi em serviços em 99 cidades
M&A
- Equatorial embolsou BRL 5.19 bi pela venda 100% da Equatorial Transmissão (incluindo 7 ativos de transmissão) . O comprador foi o fundo de pensão canadense CDPQ
- O Cade aprovou a joint venture entre Ultragaz e Supergasbras para construir terminal no Pecém para GLP. Cada empresa irá deter 50% do capital social da nova companhia resultante
Real Estate
Intenções e Estratégias
M&A
- A XP Asset está investindo BRLm 38 na compra de um terreno nos Jardins para prédio de apartamentos da One Innovation. O empreendimento terá 302 unidades e VGV de BRLm 175
- Fundo do BTG Pactual adquiriu 11 andares do Pátio Malzoni, na Faria Lima, por um montante total de cerca de BRLm 800. Quem vende é o Bluestone
- A HBR Realty aprovou a proposta vinculante para a venda do hotel Hilton Garden Inn (SP) para a CVPar Investimentos Ltda pelo valor de BRLm 110
Saúde
Intenções e Estratégias
M&A
- Nelson Tanure vendeu 6,57% das ações da Alliança (equivalente a cerca de BRLm 120) para o fundo de pensão da Light, o Braslight
- O Grupo Tommasi adquiriu o laboratório de análises clínicas da Unimed Leste Fluminense
- A Fresenius anunciou um acordo para transferir seus negócios de medicamentos injetáveis, de sua unidade em Anápolis (GO), e a operação logística em Goiânia para a EMS por um valor não divulgado
Serviços
Intenções e Estratégias
M&A
- A Davos Financial Partnership realizou uma fusão com a Sirius Finance, resultando na Davos Empresas. A operação foi assessorada pela Cepeda Advogados
- Eu Me Banco anunciou a compra de uma faculdade (de nome não divulgado) em São Paulo. A instituição será rebatizada para Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças
- A Lenarge comprou a Zero Carbon Logistics
TMT
M&A
- A Stefanini adquiriu a norte-americana Escala 24×7
- Alianza e GIC formaram joint venture para investir em data centers. O montante alocado é BRL 2 bi e deve ser investido em contratos de sale and leaseback e built-to-suit
- A consultoria ROIT comprou da concorrente TaxBook, por valor não divulgado
- A Elevia acaba de adquirir o Jurídico Certo, do Jusbrasil
- Eightroom compra fatia da Super Afiliados
- O cursinho CPV adquriu um edtech (de nome não revelado) fundada por Enrico Gazola. O valor da operação também não foi divulgado
- A Framework Digital comprou a consultoria Rethink
- A norte-americana Bragg comprou uma participação na brasileira RapidPlay. A empresa não descarta a possibilidade de adquirir o controle da companhia, “se as condições estratégicas se alinharem”
Fundraising
- A New Wave recebeu um aporte de USDm 120 da Orion Resource Partners
- Neotrust recebe aporte de BRLm 20 do principal investidor, Pedro Chiamulera
- Alô Chefia recebeu um aporte (de valor não divulgado) da STAMINA Ventures
- A Tempo receu um aporte de USDm 4,5 em rodada liderada pela Maya Capital, com participação da Norte, Caravela e investidores anjo
- Smart Compass captou BRLm 100 da Itajubá Capital