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M&A Community no Brasil – Ed. #85

Brazil 16 min read
Author
Luca Rossi

Salário bom é tendência, mas não é pra todo mundo. Os bônus médios no M&A saltaram mais de 35% para analistas e associates. Pressão por resultados e excesso de talentos júnior estão entre os motivos.

A quinzena foi quente no setor de infraestrutura, com a Eneva puxando o bonde. A companhia acertou a compra da Jandaia Geração de Energia e de um terminal de GNL. O movimento reforçou a tese da Eneva de crescer via ativos estratégicos, especialmente em zonas com incentivos fiscais como a ZPE Ceará. 

Já a Saúde foi exceção na pasmaceira do M&A dos últimos meses: segundo a PwC, os deals saltaram de 9 para 20 no 1º tri, puxados por Serviços e Farma. Nessa quinzena, o exemplo é da Hapvida, que se movimentou e vendeu o Hospital Maringá por BRLm 65.

Outros destaques incluem:

  1. A Outfield Ventures, gestora focada no mercado esportivo, levantou um fundo de BRLm 100 para antecipação de recebíveis de clubes de futebol. A aposta é clara: com a profissionalização trazida pelas SAFs, o setor se torna terreno fértil para soluções financeiras mais estruturadas.
  2. A Raízen anunciou a venda da Usina Leme para a Ferrari Agroindústria e Agromen Sementes Agrícolas por BRLm 425. A Usina está localizada no polo de Piracicaba e possui uma capacidade instalada de 1,8 milhão de toneladas por safra. Além do ativo industrial, a operação também envolve a cessão de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar.
  3. A Prio assinou contratos com a Equinor Brasil Energia para a aquisição de participação total de 60% e operação dos campos de Peregrino e Pitangola por USD 3,350 bi. O negócio será dividido em duas partes: aquisição de 40% de participação, conjuntamente com a operação do campo, e aquisição de 20% de participação.

Boa leitura!


Deals Highlights

Entre 29 de abril e 13 de maio.

Número de deals identificados: 31

Valor total divulgado: BRL 19,92 bi

TypeIndustryTargetBuyerSeller
01

Takeover

Services

Rede Antares (10 escolas, Fortaleza-CE)

Grupo Saltas

Private Shareholders

02

Takeover

TMT

Opdc

iFood

Private Shareholders

03

Takeover

TMT

Saipos

iFood

Private Shareholders

04

Takeover

TMT

3S Checkout

iFood

Private Shareholders

05

Takeover

Energy

Capixaba Energia

Petro-Victory Energy & BlueOak Invest

Private Shareholders

06

Majority Stake

Agribusiness

Adecoagro (70%)

Tether

Private Shareholders

07

Takeover

Infrastructure

JAP Telecom

Preformed Line Products (EUA)

Private Shareholders

08

Asset Acquisition

Healthcare/Pharma

Hospital & Maternidade Maringá

(Non-Disclosed)

Hapvida

09

Minority Stake

TMT

Beyond the Bytes (10%)

Espresso Labs

Private Shareholders

10

Takeover

TMT

Oystr

Softplan

Private Shareholders

11

Takeover

FIG

FI Group (Espanha)

Grupo EPSA

Private Shareholders

12

Takeover

Services

XCom

Atrevia (Espanha)

Private Shareholders

13

Asset Acquisition

Energy

Complexo termelétrico Ceiba Energy (2.430 MW)

Eneva

Ceiba Energy

14

Takeover

Consumer

Go2next

Ricoh

Private Shareholders

15

Merger

FIG

GK Partners ↔ Just Climate

16

Takeover

Energy

Jandaia Geração (de licença 2.340 MW + terminal GNL)

Eneva

Private Shareholders

17

Merger

Consumer

Vendify ↔ Mercadomínio

18

Takeover

TMT

Clear Channel Brasil

Eletromidia

Clear Channel

19

Takeover

TMT

Flowbiz

Sankhya

Private Shareholders

20

Takeover

Healthcare/Pharma

ZTX

Agnima

Private Shareholders

21

Takeover

FIG

Grafeno Pagamentos

Vórtx

Private Shareholders

22

Asset Acquisition

Energy

Usina Leme (Piracicaba-SP)

Ferrari Agroindústria & Agromen

Raízen

23

Asset Acquisition

Consumer

2 lojas (Catarinão Atacarejo & Super Mezzalira)

Unibox Atacarejo

Private Shareholders

24

Majority Stake

Energy

Campos Peregrino & Pitangola (60%)

Prio

Equinor Brasil

25

Takeover

Agribusiness

UPI (Betim-MG)

Fictor Alimentos

Mellore Alimentos

26

Asset Acquisition

Industry

Ativos da Heresite Protective Coatings (EUA)

WEG

Heresite

27

Takeover

TMT

ASF

CPV Educacional

Private Shareholders

28

Takeover

Services

Comfrio

Emergent Cold LatAm

Aqua Capital

29

Majority Stake

TMT

Sempre Internet

Brasil TecPar

Private Shareholders

30

Takeover

Consumer

Banho a Banho

Ypê

Private Shareholders

31

Asset Acquisition

Energy

Operação TTR Grupo Cacique (MA/PI/TO)

Grupo Ultra

Grupo Cacique

Na maré com poucos peixes, vencem os tubarões

A temporada de eventos em NY está oficialmente no ar, e com ela vem uma série de temas quentes que estão tomando as conversas dos deal makers nos bastidores. Claro que estamos falando das tarifas, mas não apenas delas. Os resultados da T125, que estão saindo agora do forno, apontam para um contexto onde as pressões geopolíticas e comerciais entraram em comunhão com outras outras tendências para reforçar aquele cenário, que trouxemos no começo do ano na Edição #78, de um M&A conservador e seletivo.

Claro que é preciso falar sobre as tarifas. Segundo Ricardo Reis, professor da LSE e especialista em política monetária, ao elevar a tributação, Trump alterou o fluxo bilateral de capitais e isso configura uma forma direta de repressão. A avaliação é de que nem o Congresso americano, nem figuras próximas ao presidente têm conseguido barrar as medidas, criando um clima de insegurança jurídica que pode afugentar investidores.

Enquanto o cenário internacional cheira à insegurança, no Brasil o efeito chega por várias pontas (e uma delas é a Selic). A taxa que vinha subindo desde 2021, atingindo os 13,75%, agora encontra espaço para uma mudança de rumo. Segundo a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, o cenário de incerteza internacional pode fazer o Banco Central adotar uma postura mais cautelosa no curto prazo, mas a expectativa é de que o ciclo de cortes se inicie a partir de dezembro. A projeção é que a inflação volte à meta de 3% até 2027.

Enquanto a queda dos juros não chega, a atividade de M&A doméstica arrefeceu nos últimos trimestres. Em 2024, apesar do aumento no valor total das transações, o número de deals no Brasil diminuiu ligeiramente, confirmando a prevalência de negócios maiores porém menos numerosos. Aqui, cresce espaço para os tubarões, aqueles com o capital necessário para transformar um cenário incerto em segurança.

Mas isso não se limitou ao Brasil. Globalmente, o 1T25 marcou esse mesmo contraste: valor total do M&A global subiu 15% ante 1T24 (USD 1.050 bi), graças a quatro megatransações com valor superior a USD10 bi. Por outro lado, o volume de negócios caiu quase 19% na comparação sequencial, atingindo o pior resultado trimestral desde 2020. O mercado opera em regime de fewer-but-bigger deals, e as medianas só reforçam essa perspectiva.

Aqui, o agregado latino-americano também refelte essa mesma divergência: grandes operações inflaram os valores agregados, mas o volume de negócios permaneceu modesto. O valor anunciado de M&A na região registrou um salto de 185% no 1T25 em comparação ao mesmo período de 2024, recuperando-se da retração de 2024, quando o valor total caiu 16%. 

Valuations estabilizam, mas ainda está caro comprar

A combinação de juros altos com volatilidade global exige mais racionalidade nos valuations e torna as transações mais seletivas. Essa é uma tendência que também vimos na Edição #78, quando observamos a estabilização de múltiplos em torno de 1,5x para EV/revenue como um indicativo de um mercado mais seletivo, mas com apetite por oportunidades. Agora, dados do Pitchbook referentes à T125 mostram que as medianas globais continuaram nessa mesma tendência. 

Na média global, os múltiplos de aquisição se estabilizaram em patamar mais baixo: o múltiplo mediano EV/EBITDA dos deals fechados ou anunciados nos últimos 12 meses até o 1T25 ficou em 9,6x, praticamente inalterado em comparação aos 9,7x registrados em 2024. 

Do mesmo modo, o múltiplo mediano EV/Receita manteve-se em 1,6x, idêntico ao do ano anterior. Esse ambiente de valuations estáveis (agora alinhados a níveis pré-pandemia de 2017–2019) sugere que o “reset” pós-boom foi consolidado. Vale notar que os múltiplos atuais ainda estão cerca de um ponto abaixo dos picos de 2021, refletindo o novo normal de juros mais altos.

Quem procura, acha oportunidade

Setorialmente, o desempenho tem sido desigual. Aqui, vale mencionar o Deal Momentum Scores, da Pitchbook. Esse é um indicador que mede o impulso de cada setor em termos de volume (número e valor de deals) no curto e no longo prazo. No 1T25, esses scores expuseram mudanças bruscas de trajetória entre as indústrias. Tecnologia (TI) despontou com folga como o setor de maior momentum de negócios, impulsionado pela força contínua de seus subsetores, em especial semicondutores.

Em contraste, Materiais e Recursos naturais, que haviam liderado no fim do ano passado, sofreram forte reversão: após um quarto trimestre excepcional, o setor viu suas transações desacelerarem acentuadamente e seu momentum despencou, a pior marca entre os setores no início de 2025. Há oportunidades, basta olhar para o lugar certo.


New Funds

OwnerFundCategoryExpected AUM
01

XP Asset

XP Selection Prime

PE

BRLm 300

02

Galápagos

(Non-Disclosed)

PE

03

Banco do Nordeste

(Non-Disclosed)

VC

BRLm 80

04

TRX Investimentos

TRXF11

Real Estate

BRL 1 bi

05

Banco do Nordeste

FIP Nordeste Capital Semente

VC

BRLm 150

06

BNDES, Finep & Fundação Butantan

(Non-Disclosed)

FIP

BRLm 200

07

Prio

PRIO Ventures

CVC

BRLm 129

08

Bradesco Assets

Bradesco Explorer Discovery Special Situations FIC FIM

PE

BRLm 215


Market Trends 

M&A ainda reina nos bônus, mas a febre de IA mexe no topo da folha

Depois de dois anos de vacas magras, 2024 trouxe um salto expressivo para os profissionais de M&A: o pacote médio chegou a USD 423,71k, somando salário de USD 194,8 mil e bônus de USD 228,9 mil, uma alta de 42% em relação a 2023. A valorização ocorreu mesmo com receitas de advisory crescendo bem menos (9%), numa clara aposta de bancos globais de que o ciclo de deals vai acelerar em 2025.  

Na prática, as quase 68 horas semanais trabalhadas tornaram o custo por hora desses bankers menos eficiente que o de colegas em ECM ou Sales & Trading. Ao mesmo tempo, vimos uma escassez de transações, mas com pipelines cheios de deals em fase de negociação ou due dilligence para o próximo ano. Essa necessidade de se preparar para o momento certo, em que os deals se tranformam em valor, sustentou a corrida por talento no próximo período. 

Esse otimismo, porém, convive com uma nova dinâmica no topo da hierarquia corporativa: segundo a Fox Human Capital, a demanda por inteligência artificial elevou a remuneração dos CTOs em ritmo ainda mais rápido do que a dos próprios CEOs entre 2024 e 2025. Embora os tecnólogos de bancos ainda recebam menos que os deal makers (o MD de tecnologia ganhou em média USD 786 mil, contra USD 820 mil do MD de investimento) a pressão competitiva mostra que know-how em IA começa a ditar o prêmio salarial. 

O resultado é um tabuleiro no qual a expertise de fusões e aquisições continua a ser bem paga, mas o domínio de tecnologia passa a ser a ficha decisiva para capturar as maiores fatias do bolo de bônus no setor financeiro.

Fonte: Recruiter e Pipeline

O Futuro das startups: como a Y Combinator vê a revolução da IA

A Y Combinator, uma das aceleradoras mais renomadas do mundo, compartilhou suas previsões para as startups do futuro em sua última edição do “Request for Startups”. A inteligência artificial (IA) será o grande motor da próxima geração de negócios, com destaque para os “agentes de IA”, sistemas que automatizam processos inteiros.

Segundo a YC, as startups de maior sucesso serão aquelas que adotarem IA full-stack, integrando a tecnologia em todas as áreas de operação, como no exemplo de escritórios de advocacia que podem ser inteiramente geridos por IA. Além disso, a aceleradora prevê um crescimento de empresas que desenvolvem ferramentas para criar agentes de IA internos, otimizando tarefas repetitivas.

A YC também aposta no potencial de IA para transformar setores como saúde e ciência, automatizando processos administrativos e acelerando descobertas. O futuro será dominado por soluções inovadoras baseadas em IA, e quem se antecipar a essas tendências estará à frente da concorrência.

Fonte: Startups

CTOs superam CEOs: A ascensão dos profissionais de tecnologia e o impacto da IA

A demanda por profissionais qualificados para liderar a transformação digital nas empresas está em alta. Entre 2024 e 2025, os salários dos CTOs cresceram mais que os dos CEOs, com aumentos de 15,2% nas grandes empresas e 14,3% nas PMEs, segundo estudo da Fox Human Capital. A média salarial dos CTOs é de BRL 60k nas grandes empresas e BRL 43,5k nas PMEs, com projeção de crescimento para 2026.

Embora os CEOs ainda lideram em termos absolutos (BRL 76,7k nas maiores empresas), a diferença está diminuindo, refletindo a crescente importância da inteligência artificial. Já os CFOs tiveram o menor aumento (6,7% e 10%). A contratação como PJ mostra uma variação maior, com CTOs alcançando BRL 74k e CEOs BRL 96,8k nas grandes empresas.

Os CIOs, responsáveis por TI e cibersegurança, também experimentaram altos salários, destacando a relevância crescente da área.

Fonte: Pipeline


Deu o que falar…

  1. Warren Buffett se aposenta. No auge. Depois de mais de seis décadas transformando o mundo dos investimentos e superando o S&P 500 com classe e consistência, Warren Buffett anunciou sua aposentadoria do cargo de CEO da Berkshire Hathaway.
  2. Euforia do setor de energia limpa esbarra em limitações da rede elétrica. A comemoração do setor de energia limpa com a sanção da Lei 14.948, que criou o marco legal do hidrogênio verde (H2V) em agosto de 2024, foi curta. Celebrada como a chave para desbloquear mais de 60 projetos e BRL 188 bi em investimentos, a lei foi frustrada pela limitação do setor elétrico nacional em suportar a sobrecarga da rede de transmissão prevista pelos primeiros projetos de hidrogênio verde.
  3. Deu ruim? O FGC está fechando os detalhes da linha de liquidez imediata para o Master arcar com os vencimentos mais curtos de títulos. Montante está em torno de BRL 4 bi
  4. A Gol anunciou que chegou a acordo com um grupo relevante de credores que se comprometeu a adquirir USDm 125 em novos títulos emitidos pela companhia. O montante faz parte do financiamento de USD 1,9 bi que a empresa busca para concluir seu processo de recuperação judicial nos EUA.