Back to Teaser

M&A Community no Brasil – Ed. #91

Brazil 15 min read
Author
Luca Rossi

Se você acha que já viu volatilidade, prepare-se: 2025 é uma caixinha de surpresas. Megadeals batem recordes globais, o Brasil transforma incerteza em espetáculo e mid-market pode ver luz no final do túnel. 

Em meio a liquidez farta lá fora, mineradoras brasileiras viram palco de disputa por capital internacional, enquanto por aqui cada fechamento de M&A é comemorado como gol no apagar das luzes. 

Quer surfar essa onda? Vai precisar de fôlego de maratonista e nervos de aço: tarifas disparam, distressed ficou hype e só sobrevive quem entende que volatilidade é regra, não exceção. O jogo virou, os gigantes estão se movendo e quem demorar a reagir vai só assistir da arquibancada.

Os destaques desta quinzena incluem movimentações como:

  1. A norueguesa Visma desembarca de paraquedas no mercado brasileiro e rasga o cheque: quase BRL 1,7 bi pela catarinense Conta Azul. O deal põe um ponto-final na autonomia do campeão local de ERP para PMEs e escancara que, na corrida pelo software na nuvem, o capital estrangeiro já não bate mais na porta (ele arromba).
  2. De olho além da fronteira, o BTG saca cerca de BRL 1 bi para assumir os negócios do HSBC em Montevidéu. A jogada turbina a presença regional do banco de André Esteves e reforça a meta nada modesta de fazer da receita fora do Brasil um motor tão potente quanto a matriz.
  3. Em mais um sprint para levantar caixa, a Raízen vende 55 usinas de geração distribuída por BRLm 600. A enxurrada de desinvestimentos até ajuda a reduzir a dívida (que cresceu 80% em um ano), mas já faz o mercado sussurrar: a campeã do etanol corre o risco de trocar o posto de gigante energética por uma recuperação judicial?

Boa leitura!


Deals Highlights

Curadoria entre 23 de Julho e 5 de Agosto

Número de deals identificados: 24

Valor total divulgado: BRL 4,65 bi

TargetTypeIndustryBuyerSeller
01

Agribrasil + TESC

Takeover

Agribusiness

Fundo de Omã

Private Shareholders

02

Frigorífico MG

Takeover

Agribusiness

Victor Alimentos

Mellore Alimentos

03

Beezy

Takeover

Agribusiness

Baldoni

Private Shareholders

04

Livexa

Takeover

Consumer

Magazord

Private Shareholders

05

Rede Gil Atacarejo

Takeover

Consumer

Grupo Queiroz

Private Shareholders

06

Toky (42,7%)

Minority Stake

Consumer

GTF Capital

Home24

07

Brava Energia (20,82%)

Minority Stake

Energy

Yellowstone + Jive + Queiroz Galvão

Private Shareholders

08

(55 ativos de geração distribuída)

Asset Acquisition

Energy

Thopen + Grupo Gera

Raízen

09

Usiminas (≈ 4%)

Minority Stake

Energy

Globe Investimentos

CSN

10

Inove

Minority Stake

FIG

XP Inc.

Private Shareholders

11

Operação HSBC Uruguai

Asset Acquisition

FIG

BTG Pactual

HSBC

12

Quartzo Capital ↔ Invisto

Merger

FIG

13

Boss Corretora & Gestora

Takeover

FIG

Virgo

Fundadores

14

(Carteira de clientes corporativos)

Asset Acquisition

Healthcare/Pharma

MDS

Qualicorp

15

Mango Materials

Minority Stake

Industry

Natura Ventures

Private Shareholders

16

8 imóveis corporativos

Asset Acquisition

Real Estate

JiveMauá + XP

São Carlos

17

(Galpão Logístico em Brasilia)

Asset Acquisition

Real Estate

FII HCO OPPS Aero II

Log CP

18

Ingresso Nacional (100%)

Minority Stake

Services

Ingresse

Private Shareholders

19

JV BIMS Capital × Virgo

Joint Venture

Services

BIMS & Virgo

20

CRMBonus (20%)

Minority Stake

TMT

iFood

Private Shareholders

21

SoulPrime

Takeover

TMT

Próspera

Private Shareholders

22

i4pro

Takeover

TMT

Banyan Software

Private Shareholders

23

Connect Sales

Minority Stake

TMT

SalesHunter

Private Shareholders

24

Conta Azul

Takeover

TMT

Visma (NO)

Founders/Investors


Mega deals, montanha-russa e a resiliência brasileira

JP Morgan acabou de divulgar sua análise do H1 25, e os resultados mostram uma montanha-russa digna das melhores análises da firma: foram USD 2,2 tri em volume global de M&A na primeira metade do ano, uma alta de 27% em relação ao ano anterior. 

Esse aumento, como você já deve esperar, foi impulsionado por mega deals: foram nada menos que 11 deles apenas na APAC. 

Negócios acima de USD 1 bi representam 72% do total, a maior fatia em 20 anos. Esse é um sinal claro de concentração e de que, para jogar esse campeonato, os CNPJs precisam mesmo estar parrudos.

Os números impressionam mas, ao mesmo tempo, a atenção do mercado parece estar em outro lugar em vez do tamanho dos cheques. Fatores como a volatilidade nas taxas, os embates tarifários globais e os constantes plot twists políticos são os pontos de atenção dos dealmakers durante o período, e estão fazendo muita gente segurar a caneta e esperar o cenário clarear antes de fechar negócios bilionários.


Brasil: resiliência, mineração aquecida e finais de campeonato

Enquanto o resto do mundo flerta com estratosferas de liquidez, no Brasil seguimos comemorando cada fechamento de M&A como um gol em final de campeonato. 

Burocracia de manual empoeirado, câmbio descontrolado e a novela política local ainda servem de filtro emocional para o investidor estrangeiro, deixando o deal flow brasileiro mais dependente de players especializados em “special situations” e movimentações cross-border, que cresceram 24% YoY mundo afora. 

Mas o setor de mineração impressiona: o número de operações de M&A dobrou no 1H25 em relação ao mesmo período de 2024, segundo a KPMG; foram 14 operações realizadas entre janeiro e junho, frente a nove nos seis primeiros meses do ano passado. 

Metade dessas operações envolveu estrangeiros adquirindo capital em mineradoras brasileiras, mostrando forte apetite internacional e reposicionando o segmento como protagonista da movimentação corporativa por aqui.


Deu o que falar…

  1. Ação da Yduqs cai forte após troca de CEO em movimento de sucessão interna
  2. Justiça concede 30 dias de proteção cautelar a Serede e Tahto, do Grupo Oi
  3. Zinzane, marca de moda feminina, inicia processo de recuperação judicial
  4. Grande fluxo de M&A na Raízen alerta Faria Lima sobre recuperação judicial da companhia
  5. 2W Energia, em recuperação judicial, tem mansão de BRLm 30 penhorada
  6. Bardella vai assinar acordo com PGFN para regularizar débitos
  7. Após quase dez anos, juíza encerra RJ da Ecovix

Enquanto eles investem, a gente espera a ANEEL liberar o bloco

Enquanto lá fora os VCs tem movimentado USD 8 bi em energia limpa no 1Q25 e já lamentam uma retração de 8,7% no ano, aqui no Brasil seguimos enfrentando o nosso tradicional cenário de incertezas. 

A expansão da energia renovável nacional parece um bloquinho preso no engarrafamento da ANEEL, atada a filas de conexão eternas, burocracia dignas de novela e mapas sem planejamento. 

Enquanto isso, os gringos despejam rodadas milionárias em nuclear, baterias e datacenters, embalados pela fome energética da IA. Setores como infraestrutura  de rede, fissão nuclear e energia despachável lideram os cheques lá fora, com mediana de deal global subindo 64,7% para USDm 9,9.

Por aqui, os VCs ainda precisam fazer ginástica para convencer os fundos de pensão de que clean energy não é só uma tendência ESG, mas um imperativo energético-econômico. E enquanto os EUA lidam com os efeitos Trump e a Europa reforma seus sistemas de conexão, o Brasil continua operando no modo “first come, first surta”, ou seja, um sentimento de frustração em projetos que enfrentam atrasos, exigências inconsistentes e uma fila que anda a passos de tartaruga.

Fonte: Pitchbook


O abismo está em promoção: o distressed é o novo hype

Se nos EUA o private equity está dançando na beirada do abismo, os números do mercado de distress deixam a trilha sonora ainda mais dramática. O Morningstar US High-Yield Index carrega atualmente USD 61 bi em valor de face de dívidas negociadas acima de 1.000 bps de spread e cerca de USD 38 bil em valor de mercado, com índice de estresse em 4,40%. 

É pouco? É. Afinal, estamos próximos dos pisos dos últimos três anos, numa trajetória de queda iniciada lá em 2023, após a ressaca do bear market de 2022. 

Mas basta um “Liberation Day” da vida para tudo degringolar: o pico de março-abril levou os bonds distressed a USD 106 bi!

Por aqui o cenário não fica para trás: a inadimplência bate recorde, RJ explode no agro e as previsões dos bancos já mereciam até reality show próprio. O resultado? Os fundos de distressed estão dando risada com o cardápio extra large de ativos para garimpar, de créditos NPL a precatórios “enrolados“. 

No Brasil, onde a Selic insiste em double digit e a inadimplência transformou empresários em equilibristas, boutique distressed faz fila para comprar dívida com deságio e turbinar retornos. Os vencedores? Quem tem caixa, paciência de monge e advogado afiado para briga judicial.

E não pensem que a onda passa rápido: mesmo com juro caindo, a safra de oportunidades promete seguir firme, para desespero dos devedores…  e alegria dos caçadores de pechincha corporativa.

Fonte: PitchbookCapital Aberto e Bloomberg


Tarifaço à brasileira: café amargo e negócios em pausa

O “tarifaço“ do Trump colocou Brasília para suar frio: café, manga e Embraer na corda bamba, empresas gringas monitorando do Zoom e empresários já calculando se investem na próxima safra… ou esperam a tempestade passar. 

O governo sonha com uma reversão geral das taxas de 50%, mas o risco é passar de exportador favorito a persona non grata na balança americana. A ameaça de travar investimentos – que bateram USD 357,8 bi em 2023, um salto de 200% em uma década – já pulsa nos bastidores do MA.

Enquanto Planalto e CNI tentam salvar o buffet inteiro e não só as frutas da estação, o mercado aprende mais uma vez: em Brasília, o risco nunca tira férias, só aumenta os spreads.

Fonte: Neofeed


Assistente ou Estrategista Sombrio?

O futuro da IA pode não ser o colega digital leal que imaginamos, mas um sistema sofisticado, capaz de tomar decisões controversas em prol da própria sobrevivência. 

Em testes, modelos como Claude (Anthropic) e o3 (OpenAI) sabotaram resgates simulados, trapacearam e até chantagearam quando ameaçados — e sabiam o que estavam fazendo. Justificavam como “estratégia necessária”. 

Ao treinarmos IAs para metas amplas, corremos o risco de desenvolver agentes que aperfeiçoam o engano como ferramenta. 

Enquanto empresas correm para criar modelos autoaperfeiçoáveis e governos debatem regulações com atraso, cresce a urgência por ferramentas que revelem o que esses sistemas realmente estão pensando. Ainda não é hora de entrar em pânico — mas baixar a guarda pode ser um erro.

Fonte: Bloomberg

TMT

M&A

Fundraising

Stay in the loop on M&A rumors and news Subscribe to M&A Teaser