Back to Teaser

M&A Community no Brasil – Ed. #92

Brazil 18 min read
Author
Luca Rossi

A quinzena foi de capital disciplinado no Brasil.

O destaque vai para Tech (que continua em alta voltagem). Investidores do setor se movimentaram com M&A tático e fusões, indicando busca por escala e oferta integrada. A regra é clara: narrativa sozinha não passa no comitê. No Brasil, o prêmio vai para software B2B e serviços financeiros, mas cross-border opera em modo cautela entre IOF, juros e tarifas.

Consumer também teve uma quinzena agitada, com nomes tradicionais e marcas fortes passando de mãos. Intenções de venda também tomaram o período, com nomes como Merama Natura se preparando para rodar portfólio.

Em outros setores, as estratégias envolveram o controle de gigantes tradicionais trocando de mãos, assim como movimentações que reafirmam o apetite do mercado.

  1. Mapa Capital converteu BRL 1,5 bi e assumiu 85,5% da Casas Bahia, reabrindo a tese de turnaround no varejo. 
  2. Em Educação, tickets comprimidos consolidam o setor. Entre os exemplos estão deals da Cogna (BRLm 54,4) e Yduqs (BRLm 62);
  3. Em Energia, tração se mantém com compras em eólica e transmissão. Casa dos Ventos, com cheque de BRLm 100, e Alupar (BRLm 175) ganham destaque.
  4. Setores também são tomados com desinvestimentos cirúrgicos. A Petrobras protagonizou um deal de USDm 10, já a BRF acelera sua expansão industrial da BRF na Ásia com cheque de USDm 43. 

Boa leitura!


Deals Highlights

Curadoria entre 6 e 19 de agosto

Número de deals identificados: 30

Valor total divulgado: BRL 2,53 bi

TypeIndustryTargetBuyerSeller
01

Takeover

Consumer

Takeover

Mapa Capital

(conversão de dívida em ações)

02

Minority Stake

Consumer

Veste (50%)

BTG Pactual

Banco Master

03

Minority Stake

Consumer

Lassù & Ristorantino Jardins

Trevisani

Família Diniz

04

Minority Stake

Energy

Usiminas (2,93%)

Vera Cruz FIP

CSN

05

Asset Acquisition

Energy

Projeto eólico (350 MW, CE)

Casa dos Ventos

Engeform

06

Asset Acquisition

Energy

Linhas de transmissão Rialma IV (100%)

Alupar

Rialma IV

07

Asset Acquisition

Energy

Campos Cherne e Bagre

Perenco

Petrobras

08

Asset Acquisition

FIG

Letsbank

Bluebank

Banco Master

09

Takeover

Healthcare/Pharma

Hemolab

Fleury

BRLm 39,5

10

Takeover

Healthcare/Pharma

Laboratório HSB

Hermes Pardini

Private Shareholders

11

Takeover

Industry

Vitopel do Brasil

Oben Group

Private Shareholders

12

Majority Stake

Industry

Verallia (77,5%)

BWGI

Verallia (França)

13

Asset Acquisition

Industry

Fábrica de processados (China)

BRF

Private Shareholders

14

Minority Stake

Industry

Metalfrio Solutions (19,99%)

BTG Pactual

Daniel Vorcaro

15

Asset Acquisition

Real Estate

3 imóveis do Pão de Açúcar (SP e Cotia)

FII TRXF11

Pão de Açúcar (GPA)

16

Merger

Real Estate

BRZ Incorporadora ↔ Fica Empreendimentos

17

Minority Stake Sale

Real Estate

Shopping Pátio Paulista (10%)

Funcef

Iguatemi

18

Merger

Services

Colégio Oswald de Andrade ↔ Carandá Educação

19

Takeover

Services

PontoOH

Grupo Massa

Private Shareholders

20

Takeover

Services

Faculdade de Medicina de Dourados

Cogna

Private Shareholders

21

Minority Stake

Services

Open It

Hashtag Group

Private Shareholders

22

Takeover

Services

Unifametro (CE)

Yduqs

Private Shareholders

23

Minority Stake

TMT

Mangue Tech (40%)

Carbonext

Private Shareholders

24

Takeover

TMT

UseAll

Constellation

Private Shareholders

25

Takeover

TMT

Elevaty

RPE

Private Shareholders

26

Minority Stake

TMT

LWSA (10%)

Kinea

Private Shareholders

27

Merger

TMT

Cyber BR ↔ Munio Security

28

Minority Stake

TMT

OnNet (49%)

Brasil TecPar

BRLm 55

29

Takeover

TMT

Mtrix

NielsenIQ (EUA)

Private Shareholders

30

Takeover

TMT

Le Mans FC (França)

OutField

Private Shareholders


2T’25 fecha com aquecimento no M&A global. Como você pode aproveitar esse cenário?

A análise dessa semana tem como objetivo desbloquear oportunidades. Acontece que, quanto mais dados da 2T temos, mais claro fica o caminho que os dealmakers globais e brasileiros estão tomando.

Vamos começar olhando para o todo. Depois de um 1T’25 turbulento, os dados nos mostram que o M&A global no 2T’25 tem sinais de recuperação no valor de transações. De acordo com um relatório do BRG, foi um aumento de 24% (USD 638 bi) comparado com o período anterior, e o crescimento também acontece no ticket médio (+17,7%, alcançando USD 77 mil)

Em volume, o mundo avançou +5,4% QoQ, com LatAm como o destaque (+108% QoQ), Europa destravando consolidações com cortes de juros, e Oriente Médio arrefecendo (-4,6%). Na análise setorial, temos:

  1. Materiais liderou o crescimento em volume (+14,2% QoQ);
  2. Energia & Utilities cedeu (-18,8%);
  3. Healthcare puxou valor (+127,4% em deal value, ancorado por megadeals).

Nos múltiplos globais de EV/EBITDA, os destaques são:

  1. TMT estabilizando em 10,8x;
  2. Energia & Utilities ficou em 7,8x;
  3. Healthcare recuou para 11,8x.

Que tecnologia é febre a gente sabe, mas já falamos sobre os riscos do hype. Nesse aspecto, o cenário parece mais moderado no principal mercado de referência, os EUA. Lá, TMT viu seus múltiplos normalizarem de 119,9x, valor infladíssimo, para o número mais realista de 16,7x. Enquanto isso, os gamers estão puxando o ritmo de Consumer, com múltiplos avançando para 20,4x.

Olhando para esses números, vemos um movimento de capital mais seletivo, com prêmios para teses com qualidade de receita e visibilidade de caixa. Isso já era de se esperar, considerando os desafios econômicos globais atualmente. 

E se impactou o cenário global, a expectativa já era que o sentimento também tomasse os dealmakers brasileiros. 

No Brasil, ciclo de 12 meses reforça a dominância de Tech. Confira onde pagar menos para ganhar mais

No Brasil, o Tech M&A saiu do modo soneca e entrou no 220V. O mercado nos últimos 12 meses, segundo análise da FZF Capital, mostrou ritmo firme e padrão de preços mais claro. No período, maio/25 foi o pico em número de transações (36) e junho/25 manteve tração (25). Uma sequência forte, e que conversa bastante com o reaquecimento global que a BRG observou. 

Em valuation, o “mapa” por vertical mostra onde há prêmio (e onde há desconto):

  • Software B2B: ~1,7x Receita | ~6,0x EBITDA
  • Loyalty: 1,1x ~7,5x
  • Serviços Financeiros: ~1,4x | ~3,6x
  • Marketplaces: ~1,3x | ~3,7x
  • Hardware: 0,7x ~5,8x
  • Educação: ~1,4x ~4,4x

Mas prossiga com cautela. Não basta apenas escolher setores com melhores múltiplos e torcer para ser um bom negócio. Com base na análise dessa semana, separei 3 dicas fundamentais para você fechar bons negócios na reta final do ano. 

  1. Priorize eficiência “de dentro para fora”. O investidor global voltou, mas paga por margem, churn baixo e NRR/ARR saudáveis. Isso sustenta múltiplos em B2B e Loyalty no Brasil e encurta ciclo de DD.
  2. Compre onde o spread está a seu favor. Com TMT global moderado e Energia & Utilities pressionado em volume, o mercado mostra mais espaço para arbitragem em ativos tech brasileiros com desconto relativo (picos de atividade em mai–jun encurtam o “time-to-close”).
  3. Estruture para previsibilidade. Earn-outs atrelados a métrica de recorrência e cláusulas de retenção capturam upside sem pagar tudo “à vista”, e podem ser uma boa estratégia. Esse é o desenho mais escolhido atualmente para considerando o apetite atual de risco.

Deu o que falar…

  1. Unigel flerta com recuperação judicial, empresa entrou com pedido de proteção contra execução de dívida, busca novos recursos
  2. A Comerc negou negociações sobre sua possível venda pela Vibra
  3. Americanas recupera rentabilidade das lojas, volta a emitir cartões e reduz o prejuízo em 95%
  4. BRF e Marfrig pedem que Cade acelere fusão e dizem que rivais tumultuam processo. O órgão regulador está tendendo á aprovar a operação
  5. A Samarco encerrou seu processo de recuperação judicial
  6. Caarj entra com medida cautelar preparatória de recuperação judicial

Tecnologia também é quem puxa o PE global

Os relatórios do BRG e da FZF já vinham apontando onde estavam as oportunidades em Tech. Agora, a leitura KPMG Pulse of Private Equity confirma o mesmo vetor no private equity global. TMT mantém a dianteira, temos cheques maiores e uma queda no “piloto automático” dos add-ons. 

O cenário que a consultoria monta é um onde o valor total de deals está no ritmo de 2024, mas a contagem desacelerou. A Q2’25 somou USD 363,7 bi em 3.769 operações. Tradução: menos transações, tickets mais altos, seletividade maior.

  • Tamanho de cheque segue no topo: mediana e média globais permanecem elevadas (buyouts em três dígitos na mediana e USDm 775 mi na média);
  • Add-ons esfriando: a “corrida histórica” por bolt-ons perde fôlego e a atenção relativa dos dealmakers volta para as plataformas;
  • Exits melhoram, com IPOs voltando a contribuir para valor, enquanto fundraising continua abaixo do normal.

A fotografia de Q2’25 reforça um playbook claro: capital continua fluindo para TMT e adjacências de IA (infraestrutura digital, energia para data centers, conectividade), com ênfase em ativos de alta qualidade, receita recorrente e margens defendidas

  • Nas Américas, houve recuo de valor e volume na virada do trimestre, com os players priorizando alvos domésticos e resilientes a ruído de tarifas. Ao mesmo tempo, energia, infraestrutura e healthtech sustentam tração, muito ligados ao apetite por IA infra e serviços essenciais. Isso tende a encurtar janelas quando o ativo certo aparece.

Mesmo com menos deals, a competição por ativos A+ mantém o preço. A KPMG identificou que, para os dealmakers, a tese operacional sólida deve estar presente desde o dia zero. É aquela linha que já comentamos, de um hype mais comedido e estratégico. 

Fonte: KPMG


Do “software come o mundo” à “IA come o software”

Quatorze anos depois do manifesto de Marc Andreessen, o pêndulo virou: a disrupção agora morde as próprias campeãs do SaaS. 

A tese da Melius Research acendeu o alerta: à medida que agentes de IA assumem tarefas antes feitas por equipes inteiras, CFOs cortam licenças e apertam Opex — e os múltiplos das “queridinhas” desinflam

Adobe, Salesforce, Atlassian e Monday viram o mercado testar a resiliência de seus modelos de assinatura; a Adobe, inclusive, foi rebaixada para venda, sob pressão de rivais nascidos na nuvem e de hyperscalers que empacotam geração de imagem e vídeo dentro das plataformas. 

O dinheiro, por sua vez, escorre para a infraestrutura: quem opera o “encanamento” — Azure, AWS, Oracle — surfa a nova onda de demanda computacional. Nem tudo é sentença: players como Microsoft mostram que dá para transformar a maré em vento a favor. Para o resto, a lição é clara: ou a IA é produto e canal hoje, ou a compressão de múltiplos continuará amanhã.

Fonte: Brazil Journal


VC de primeira viagem: a curva de realidade chegou

O gráfico dispensa legenda: ficou bem mais difícil levantar o “fundo 2”. A PitchBook mostra que a fatia de gestores estreantes nos EUA que conseguem voltar à praça despencou desde o pico pós-2021, aterrissando perto de zero em 2025. 

A conta não fecha pelos principais motivos:

  • LPs retraídos com pouca liquidez retornando ao ciclo
  • Janelas de êxito tímidas e um filtro brutal por track record – especialmente para fundos under-USDm 10 e fora dos hubs tradicionais.

O recado é direto: quem nasceu na euforia agora precisa provar DPI, não só TVPI, alongar timeline e ancorar com poucos cheques âncora antes de abrir o data room. Para founders, o efeito colateral é seletividade máxima: follow-ons se concentram em teses com tração clara e margens saudáveis, o resto vai para venture de BT, M&A oportunista ou hibernação.

No Brasil, o espelho é parecido: rodadas seguem mais concentradas em teses com receita recorrente e eficiência. Nos últimos dias, a Priner levantou BRLm 103,4 em aumento de capital para realizar um plano de M&As estratégicos; enquanto a Eve, companhia criada pela Embraer, captou USDm 230 para a eVTOL e contou com a aposta do BNDES. 

O que esses deals têm em comum? Todos casos com tração e unit econômicos claros. 

Fonte: Pitchbook


O freio da mão invisível no 1Q25

Historicamente, o semestre do “sim” em M&A pode virar o “melhor ir com calma”. O combo de juros altos + judicialização do novo IOF + tarifas de 50% dos EUA sobre Importados brasileiros bate direto naquela que dá tração a deals: custo de capital, previsibilidade e apetite cross-border.

A alavancagem encarece em duas frentes (crédito e câmbio), pressionando valuations e alongando diligências. Conselhos já revisitam cartas de oferta, pedindo cláusulas de preço e estrutura com earn-out, MAC e ajustes tributários para amortecer a volatilidade.

Setores com receita recorrente e margem (infra de dados, software B2B, serviços financeiros) tendem a resistir melhor; comércio exterior, serviços e turismo sentem primeiro. Para investidores estrangeiros, a mensagem é cautela: sem clareza regulatória, o capital migra para mercados com spread de risco menor.

Ainda assim, projetos em fase avançada devem seguir, mas com criatividade contratual, menos alavancagem e price discipline como regra, não exceção.

Fonte: Capital Aberto


Stay in the loop on M&A rumors and news Subscribe to M&A Teaser