Olá,
O pipeline de M&A no Brasil mostrou apetite seletivo, com rotação de ativos em energia, movimentos relevantes de infraestrutura e sinais de funding de grande porte. Mesmo assim, os resultados acumulados do ano deixam um retrogosto de desaceleração no setor.
Nesta edição, destacamos três operações que movem o ponteiro:
- J&F compra a Eletronuclear; a Eletrobras elimina risco e faz caixa com a venda do ativo por BRLm 535.
- Copel concluiu a venda da usina Baixo Iguaçu para a Energo Pro por BRL 1,68 bi, reforçando disciplina de capital e rotação de portfólio.
- Cosan confirma acordo com BTG e Perfin para viabilizar uma oferta de BRL 10 bi, abrindo espaço para acelerar projetos de infraestrutura.
Confira mais detalhes (e insights) na edição de hoje.

Deals Tracker
Curadoria entre 14 até 28 de setembro
Número de deals identificados: 28
Brasil em câmera lenta: quando a reforma tributária vira freio de arrumação
O mercado de M&A brasileiro patinou em 2025, e os números não mentem. Com 1.087 transações até setembro, estamos 19% abaixo de 2024 e 34,5% distantes do pico de 2021.
Enquanto o mundo gira, o Brasil hesita – e a reforma tributária que promete “simplificar” pode estar complicando ainda mais as contas dos deal makers.
Uma reforma que acontece em doses homeopáticas
Para quem perdeu os capítulos anteriores: PIS, Cofins, ICMS e ISS darão lugar ao IVA dual – CBS (federal, 8,8% a partir de 2027) e IBS (estadual/municipal, entrada gradual entre 2029-2033). A alíquota máxima conjunta deve rondar os temíveis 26,5%, fazendo o Brasil disputar o pódio da tributação sobre consumo global.
A primeira fase já começou a assustar: empresas no lucro presumido sentem o baque maior da CBS. A segunda, com IBS chegando aos poucos até 2033, muda o jogo geográfico – fim da guerra fiscal, tributação por destino e não por origem. Adeus, incentivos malucos que colocavam fábricas no meio do nada.
E como isso impacta M&A?
Com ritmo já arrastado, a reforma adiciona camadas de complexidade às avaliações. EBITDAs serão recalculados, estruturas societárias repensadas, localização de ativos reavaliada.
Negócios B2C sofrem mais que B2B. E tem mais: a proposta de tributar dividendos em 10% para estrangeiros – sem mecanismo claro de restituição – pode espantar ainda mais os gringos, que já representam apenas 203 das 1.087 operações este ano.
Bottom line: O mercado espera clareza. Até lá, continuaremos contando deals em câmera lenta.
No termômetro macro:
- IPCA-15 de outubro a 0,18% (abaixo dos 0,24% esperados) alimenta apostas de corte da Selic já em janeiro;
- Nos EUA, CPI de 3% mantém Fed no caminho de dois cortes ainda em 2025, mas a guerra tarifária Trump-China segue esfriando o apetite por risco;
- O Ibovespa sobe, mas sem convicção;
- Dólar a R$ 5,39 (-0,2% na semana) reflete a gangorra global..
A conta não fecha: reforma necessária + timing péssimo = M&A desacelerado até 2027, no mínimo.
Ambipar: o alerta vermelho do M&A sem freio
A recuperação judicial da Ambipar é mais que um tropeço corporativo, é um case sobre os perigos do M&A desenfreado. Após 42 aquisições em poucos anos (uma a cada três semanas!), a companhia agora reorganiza dívidas bilionárias e deixa um rastro de vendedores em apuros.
Boa parte das operações de M&A envolve pagamentos parcelados ou earn-outs. O vendedor confia que receberá. Mas quando o comprador entra em recuperação judicial, esses créditos viram quirografários comuns e disputam migalhas com todos os credores.
- Fernando Zanotti, do Abe Advogados, foi direto durante uma entrevista: “A diferença entre receber ou não está nas garantias contratuais”.
Em negociações desiguais, vendedores menores costumam aceitar condições arriscadas. Compradores resistem a dar garantias. O resultado? Exposição brutal quando a maré vira.
- “Negociação não é duelo de egos, é equilíbrio de riscos”, alerta Zanotti.
A Ambipar criou uma cadeia complexa de obrigações e agora testa a resiliência contratual de dezenas de vendedores. O recado é claro: no M&A, otimismo não substitui garantias sólidas. Cautela é técnica, não desconfiança.
Deu o que falar…
- Master, de Daniel Vorcaro, enfrenta vencimento de BRL 1 bi em CDBs enquanto prorrogação do FGC para quitar dívida termina em 30 dias
- Belagrícola, controlada pelo grupo chinês Pengdu, pede tutela cautelar e suspende pagamentos diante de alta inadimplência rural
- Amaggi desiste da joint venture com Inpasa e deve construir plantas de etanol de milho sozinha
- Rede D’or aponta negociações ‘infrutíferas’ com Fleury e nega conversas com Dasa e Alliança
Agronegócio em RJ: o outro lado da moeda revela oportunidades em ativos estressados
A explosão de recuperações judiciais no agronegócio brasileiro criou um cenário paradoxal: crise para uns, oportunidade para outros.
Os números da Serasa Experian são brutais: produtores rurais pessoas físicas saltaram de 3 pedidos no T1/21 para 220 no T2/25, um crescimento de 7.233%. Pessoa jurídica seguiu trajetória similar: de 22 para 243 pedidos no mesmo período.
- A Lei 14.112/2020 democratizou o acesso ao RJ, mas também abriu as comportas para uso estratégico – e abusivo – do instituto. Produtores renovam maquinário, ampliam estoques e, em seguida, buscam proteção judicial, transformando recuperação em planejamento financeiro agressivo. O resultado? Insegurança jurídica que estrangula o crédito para pequenos e médios produtores.
Para fundos oportunistas e consolidadores do setor, porém, esse é o momento. Ativos produtivos subavaliados, estoques represados, terras com potencial e máquinas modernas presas em RJs criam um pipeline robusto para M&A de distressed assets. A alienação fiduciária, embora insuficiente para resolver o problema sistêmico, facilita a extração de valor para compradores qualificados.
O trade-off é claro: bancos restringem crédito novo, mas ativos existentes em recuperação viram moeda de troca. Quem tem capital e apetite para navegar processos judiciais complexos encontra oportunidades de consolidação a múltiplos deprimidos. O agro não para – apenas muda de mãos.
IA devora Venture Capital no café da manhã: a revolução silenciosa que reescreve as regras do jogo
Enquanto o M&A brasileiro patina, o venture capital global vive sua metamorfose mais dramática. E o protagonista tem nome: inteligência artificial.
A IA não está apenas crescendo – está canibalizando tudo.
- No Q3’25, startups de IA capturaram absurdos 51% de todo o funding global e 22% dos deals. Nos EUA, o domínio é ainda mais brutal: 85% do capital destinado à IA flui para lá, impulsionado por mega-rounds monstruosos como os USD 13 bi da Anthropic e USD 8,3 bi da OpenAI.
- O mercado registrou USD 95,6 bi em funding no Q3 – quarto trimestre consecutivo acima de USD 90 bi – mas o número de deals caiu para o menor patamar desde 2016. Tradução: cheques maiores, carteiras mais seletivas, concentração extrema. Os decacorns (valuations de USD 10 bi+) levaram USD 94,5 bi só até setembro, o dobro de 2024 inteiro.
O efeito colateral é devastador.
- Retail tech e healthcare despencaram.
- Fintech ficou flat.
- A IA não está apenas crescendo, está sugando oxigênio de setores tradicionais.
- Em digital health, 63% do funding foi para startups de IA.
- Em retail tech, 36%. Até em fintech, historicamente resiliente, a IA já domina 23% do capital.
O veredicto: estamos diante de um flight to quality brutal. Quem não surfa a onda da IA – seja em infra, agentes, modelos ou aplicações – fica à margem do maior ciclo de capital da história do venture.
Agronegócio
Consumer
Intenções e Estratégias
- Americanas atrai cinco interessados para venda do Natural da Terra; proposta vinculante pode sair em 30 dias
- St. Marche pede uma “segunda chance” após período de recuperação
- Venda do Hortifruti Natural da Terra pode ser fatiada entre grupos regionais e fundos de investimento
- Grupo Trigo, dono do Spoleto e China in Box, negocia compra da Casa do Pão de Queijo
M&A
Energia
M&A
- J&F amplia domínio no setor elétrico ao comprar Eletronuclear; Eletrobras elimina risco e surpreende com venda de ativo “sem valor” por BRLm 535
- Copel conclui venda da usina Baixo Iguaçu à Energo Pro, em operação de BRL 1,68 bi
- Thopen, controlada da Pontal Energy, compra 45 usinas solares da Matrix Energia por BRLm 556
- Âmbar, da J&F, compra termelétrica da GNPW e ultrapassa 6,5 GW de capacidade instalada
- EDP vende linha de transmissão no litoral Sul por BRLm 510 para um fundo gerido pela Actis
- A América Geração vendeu sua participação de 51% em uma central geradora hidrelétrica (CGH) para a Hy Brazil Energia, empresa do grupo Mauá
- Âmbar adquire três usinas termelétricas da Rovema Energia, no Acre somando 69,4MW
FIG
Intenções e Estratégias
M&A
- Arandu Partners conclui compra da Reag Asset e Alpha, assumindo controle de 87,4% da Reag Investimentos
- Manchester, escritório da rede XP que tem como sócio bicampeão olímpico, sela aquisição da Ficus em transação sem valor divulgado
- RPE adquire Klok Tech e amplia ecossistema de crédito para o varejo com orquestração de seguros e receita recorrente
Saúde
Intenções e Estratégias
- TotalPass já pode valer BRL 1,5 bi dentro da SmartFit, diz Citi
- Oncoclínicas negocia venda de hospital em MG e deve levantar cerca de BRLm 150
- Hig Capital busca comprador para a Selfit e enfileira saída de outras investidas
M&A
- Pátria vende rede de farmácias pernambucana Independente para grupo da Hebron Farmacêutica em transação sem valor divulgado
- A ANS aprovou a venda de 100% do capital social da Gama Saúde pela Qualicorp. O comprador já está definido: será Fernando Vieira, controlador da holding ESB Corp
- Eurofarma e SK Biopharmaceuticals criam a Mentis Care, joint venture em IA e saúde digital
Industria
Infraestrutura
Intenções e Estratégias
- V.tal acusa Pimco de abuso de poder na Oi e move protesto judicial contra gestora americana por BRLm 500+ em danos
- Petrobras leva concessão de terminal portuário no RJ por BRLm 104
- EPR vence leilão do lote 4 de rodovias do Paraná, com desconto de 21,3% sobre pedágio
- Claro Brasil deve oferecer R$ 21 por ação da Desktop em oferta vinculante, diz jornal
- Nacional Gás cria o “iFood do botijão” à espera do boom de consumo do gás de cozinha
M&A
- Ultrapar compra 37,5% da Virtu GNL, empresa de logística, por BRLm 102,5
- Cosan confirma acordo com BTG e Perfin para viabilizar oferta de BRL 10 bi
- Cade aprova aquisição de metade da Fibrasil pela dona da Vivo
- Presidente do conselho do BTG, André Esteves passa a controlar indiretamente 81,41% da Estapar após adquirir cotas do o Riverside Fundo de Investimento em Participações
- ODATA Brasil adquire uma empresa de data center, a GP Participações, e aumenta sua carteira de negócios em São Paulo
- A Priner concluiu a aquisição de 60% do capital social da SEMEP Logística e Construção; a transação não teve o valor divulgado
Real Estate
Intenção e Estratégia
M&A
- A Klabin levantou BRLm 300 com a venda de uma participação minoritária numa SPE recém-criada, na qual a companhia alocou 15 mil hectares de terras
- O fundo imobiliário GGR Covepi Renda concluiu a compra de um galpão logístico localizado em Quatro Barras, no Paraná, atualmente locado à Renault. O ativo foi adquirido do FII Votorantim Logística por BRLm 214, valor que, segundo comunicado, será pago por meio do crédito que o GGRC11 detém em razão da subscrição, pelo VTLT11, de 19,3 milhões de cotas
- Log-In acerta compra de imóvel comercial em Manaus por BRLm 40
Serviços
Intenções e Estratégias
M&A
TMT
Intenções e Estratégias
M&A
- Spun compra o time campeão MIBR e investe BRLm 100 para negócios de ‘games’
- B3 (B3SA3) conclui compra de 62% da Shipay, a operação foi de BRLm 37
Fundraising
- Chatbot Maker capta R$ 1,5 milhão para expandir operações; os recursos virão da empresa de tecnologia KPTL por meio de fundo estruturado no BNDES
- A Darwin — uma insurtech focada no seguro auto — acaba de levantar BRLm 102 para expandir seu portfólio de produtos, investir mais em inteligência artificial e acelerar seu plano de expansão, a captação foi liderada pela Vintage Investimentos
- O Vivo Ventures, fundo de CVC da Vivo, está investindo USDm 2,5 na 180 Seguros, como extensão da rodada pré-série B da insurtech
- DS Marketing recebe aporte de BRLm 5 da Triaxis Capital e Crescera Capital para acelerar digitalização
- Draiven, startup que usa IA para ajudar empresas a decidir mais rápido, capta BRL 750 mil em dois meses de operação com investidores-anjo
- Velotax capta BRLm 125 em rodada série A justamente para ampliar seu ecossistema de finanças pessoais, participaram da rodada QED Investors, Valor Capital e Picus Capital
Luca Rossi