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M&A Community no Brasil – Ed. #97

Brazil 15 min read
Author
Luca Rossi

Olá, 

O pipeline de M&A no Brasil mostrou apetite seletivo, com rotação de ativos em energia, movimentos relevantes de infraestrutura e sinais de funding de grande porte. Mesmo assim, os resultados acumulados do ano deixam um retrogosto de desaceleração no setor.

Nesta edição, destacamos três operações que movem o ponteiro:

  • J&F compra a Eletronuclear; a Eletrobras elimina risco e faz caixa com a venda do ativo por BRLm 535.
  • Copel concluiu a venda da usina Baixo Iguaçu para a Energo Pro por BRL 1,68 bi, reforçando disciplina de capital e rotação de portfólio.
  • Cosan confirma acordo com BTG e Perfin para viabilizar uma oferta de BRL 10 bi, abrindo espaço para acelerar projetos de infraestrutura.

Confira mais detalhes (e insights) na edição de hoje.



Deals Tracker

Curadoria entre 14 até 28 de setembro

Número de deals identificados: 28

DealIndustrySeller/CounterpartyBuyer/Investor
01

J&F amplia domínio no setor elétrico ao comprar Eletronuclear; Eletrobras elimina risco e surpreende com venda de ativo “sem valor” por BRLm 535

Energy

Eletrobras (Eletronuclear)

J&F (Âmbar)

02

Ticketmaster avança no mercado brasileiro ao comprar Baladapp, empresa de Gusttavo Lima, e amplia presença em eventos ao vivo no país

Services

Baladapp

Ticketmaster

03

WEG compra 54% do capital social da Tupi Mob por BRLm 38

Industry

Tupi Mob (54%)

WEG

04

Arandu Partners conclui compra da Reag Asset e Alpha, assumindo controle de 87,4% da Reag Investimentos

FIG

REAG Asset; Alpha (venda de 87,4% da Reag Investimentos)

Arandu Partners

05

Ultrapar compra 37,5% da Virtu GNL, empresa de logística, por BRLm 102,5

Infrastructure

Virtu GNL (37,5%)

Ultrapar

06

Spun compra o time campeão MIBR e investe BRLm 100 para negócios de ‘games’

TMT

MIBR

Spun

07

Cosan confirma acordo com BTG e Perfin para viabilizar oferta de BRL 10 bi

Infrastructure

Cosan (acordo p/ oferta)

BTG; Perfin

08

Cade aprova aquisição de metade da Fibrasil pela dona da Vivo

Infrastructure

FiBrasil (50%)

Telefónica (dona da Vivo)

09

Presidente do conselho do BTG, André Esteves passa a controlar indiretamente 81,41% da Estapar após adquirir cotas do Riverside FIP

Infrastructure

Riverside FIP

André Esteves

10

Pátria vende rede de farmácias pernambucana Independente para grupo da Hebron Farmacêutica em transação sem valor divulgado

Healthcare/Pharma

Pátria (Rede Independente)

Grupo Hebron Farmacêutica

11

ANS aprova a venda de 100% da Gama Saúde pela Qualicorp; comprador será Fernando Vieira (ESB Corp)

Healthcare/Pharma

Qualicorp (Gama Saúde, 100%)

Fernando Vieira (ESB Corp)

12

Klabin levanta BRLm 300 com venda de minoritária em SPE com 15 mil ha de terras

Real Estate

Klabin (SPE de terras, participação minoritária)

[Investidor não divulgado]

13

Copel conclui venda da usina Baixo Iguaçu à Energo Pro, em operação de BRL 1,68 bi

Energy

Copel (Usina Baixo Iguaçu)

Energo-Pro

14

Thopen, da Pontal, compra 45 usinas solares da Matrix por BRLm 556

Energy

Matrix Energia (45 usinas solares)

Thopen (Pontal Energy)

15

Manchester, escritório da rede XP, sela aquisição da Ficus (valor não divulgado)

FIG

Ficus

Manchester (rede XP)

16

GGRC11 compra galpão locado à Renault por BRLm 214; pagamento via crédito detido contra VTLT11

Real Estate

FII Votorantim Logística (VTLT11)

FII GGR Covepi Renda (GGRC11)

17

Eurofarma e SK Biopharmaceuticals criam a Mentis Care, JV em IA e saúde digital

Healthcare/Pharma

JV Mentis Care (constituição)

Eurofarma; SK Biopharmaceuticals

18

Âmbar, da J&F, compra termelétrica da GNPW e ultrapassa 6,5 GW de capacidade instalada

Energy

GNPW (termelétrica)

Âmbar (J&F)

19

Cade aprova saída da Raízen da rede OXXO

Consumer

Raízen (saída da rede OXXO)

20

EDP vende linha de transmissão no litoral Sul por BRLm 510 para fundo da Actis

Energy

EDP (linha de transmissão)

Fundo gerido pela Actis

21

América Geração vende 51% em CGH para a Hy Brazil Energia

Energy

América Geração (51% em CGH)

Hy Brazil Energia (Grupo Mauá)

22

Log-In acerta compra de imóvel comercial em Manaus por BRLm 40

Real Estate

Log-In

23

B3 conclui compra de 62% da Shipay por BRLm 37

TMT

Shipay (62%)

B3

24

ODATA Brasil adquire a GP Participações e amplia carteira em SP

Infrastructure

GP Participações (data center)

ODATA Brasil

25

Priner conclui compra de 60% da SEMEP; valor não divulgado

Infrastructure

SEMEP Logística e Construção (60%)

Priner

26

Eletromidia adquire a empresa de out-of-home Urbana Mídia (BH)

Services

Urbana Mídia

Eletromidia

27

RPE adquire Klok Tech e amplia ecossistema de crédito no varejo

FIG

Klok Tech

RPE

28

Âmbar adquire três usinas termelétricas da Rovema Energia, no Acre (69,4 MW)

Energy

Rovema Energia (3 UTEs, Acre)

Âmbar (J&F)


Brasil em câmera lenta: quando a reforma tributária vira freio de arrumação

O mercado de M&A brasileiro patinou em 2025, e os números não mentem. Com 1.087 transações até setembro, estamos 19% abaixo de 2024 e 34,5% distantes do pico de 2021.

Enquanto o mundo gira, o Brasil hesita – e a reforma tributária que promete “simplificar” pode estar complicando ainda mais as contas dos deal makers.

Uma reforma que acontece em doses homeopáticas

Para quem perdeu os capítulos anteriores: PIS, Cofins, ICMS e ISS darão lugar ao IVA dual – CBS (federal, 8,8% a partir de 2027) e IBS (estadual/municipal, entrada gradual entre 2029-2033). A alíquota máxima conjunta deve rondar os temíveis 26,5%, fazendo o Brasil disputar o pódio da tributação sobre consumo global.

A primeira fase já começou a assustar: empresas no lucro presumido sentem o baque maior da CBS. A segunda, com IBS chegando aos poucos até 2033, muda o jogo geográfico – fim da guerra fiscal, tributação por destino e não por origem. Adeus, incentivos malucos que colocavam fábricas no meio do nada.

E como isso impacta M&A?

Com ritmo já arrastado, a reforma adiciona camadas de complexidade às avaliações. EBITDAs serão recalculados, estruturas societárias repensadas, localização de ativos reavaliada.

Negócios B2C sofrem mais que B2B. E tem mais: a proposta de tributar dividendos em 10% para estrangeiros – sem mecanismo claro de restituição – pode espantar ainda mais os gringos, que já representam apenas 203 das 1.087 operações este ano.

Bottom line: O mercado espera clareza. Até lá, continuaremos contando deals em câmera lenta.

No termômetro macro

  • IPCA-15 de outubro a 0,18% (abaixo dos 0,24% esperados) alimenta apostas de corte da Selic já em janeiro;
  • Nos EUA, CPI de 3% mantém Fed no caminho de dois cortes ainda em 2025, mas a guerra tarifária Trump-China segue esfriando o apetite por risco;
  • O Ibovespa sobe, mas sem convicção;
  • Dólar a R$ 5,39 (-0,2% na semana) reflete a gangorra global..

A conta não fecha: reforma necessária + timing péssimo = M&A desacelerado até 2027, no mínimo.​​​​​​​​​​​​​​​​


Ambipar: o alerta vermelho do M&A sem freio

A recuperação judicial da Ambipar é mais que um tropeço corporativo, é um case sobre os perigos do M&A desenfreado. Após 42 aquisições em poucos anos (uma a cada três semanas!), a companhia agora reorganiza dívidas bilionárias e deixa um rastro de vendedores em apuros.

Boa parte das operações de M&A envolve pagamentos parcelados ou earn-outs. O vendedor confia que receberá. Mas quando o comprador entra em recuperação judicial, esses créditos viram quirografários comuns e disputam migalhas com todos os credores. 

  • Fernando Zanotti, do Abe Advogados, foi direto durante uma entrevista: “A diferença entre receber ou não está nas garantias contratuais”.

Em negociações desiguais, vendedores menores costumam aceitar condições arriscadas. Compradores resistem a dar garantias. O resultado? Exposição brutal quando a maré vira. 

  • “Negociação não é duelo de egos, é equilíbrio de riscos”, alerta Zanotti.

A Ambipar criou uma cadeia complexa de obrigações e agora testa a resiliência contratual de dezenas de vendedores. O recado é claro: no M&A, otimismo não substitui garantias sólidas. Cautela é técnica, não desconfiança.​​​​​​​​​​​​​​​​


Deu o que falar…

  1. Master, de Daniel Vorcaro, enfrenta vencimento de BRL 1 bi em CDBs enquanto prorrogação do FGC para quitar dívida termina em 30 dias
  2. Belagrícola, controlada pelo grupo chinês Pengdu, pede tutela cautelar e suspende pagamentos diante de alta inadimplência rural
  3. Amaggi desiste da joint venture com Inpasa e deve construir plantas de etanol de milho sozinha
  4. Rede D’or aponta negociações ‘infrutíferas’ com Fleury e nega conversas com Dasa e Alliança

Agronegócio em RJ: o outro lado da moeda revela oportunidades em ativos estressados

A explosão de recuperações judiciais no agronegócio brasileiro criou um cenário paradoxal: crise para uns, oportunidade para outros.

 Os números da Serasa Experian são brutais: produtores rurais pessoas físicas saltaram de 3 pedidos no T1/21 para 220 no T2/25, um crescimento de 7.233%. Pessoa jurídica seguiu trajetória similar: de 22 para 243 pedidos no mesmo período.

  • A Lei 14.112/2020 democratizou o acesso ao RJ, mas também abriu as comportas para uso estratégico – e abusivo – do instituto. Produtores renovam maquinário, ampliam estoques e, em seguida, buscam proteção judicial, transformando recuperação em planejamento financeiro agressivo. O resultado? Insegurança jurídica que estrangula o crédito para pequenos e médios produtores.

Para fundos oportunistas e consolidadores do setor, porém, esse é o momento. Ativos produtivos subavaliados, estoques represados, terras com potencial e máquinas modernas presas em RJs criam um pipeline robusto para M&A de distressed assets. A alienação fiduciária, embora insuficiente para resolver o problema sistêmico, facilita a extração de valor para compradores qualificados.

O trade-off é claro: bancos restringem crédito novo, mas ativos existentes em recuperação viram moeda de troca. Quem tem capital e apetite para navegar processos judiciais complexos encontra oportunidades de consolidação a múltiplos deprimidos. O agro não para – apenas muda de mãos.​​​​​​​​​​​​​​​​


IA devora Venture Capital no café da manhã: a revolução silenciosa que reescreve as regras do jogo

Enquanto o M&A brasileiro patina, o venture capital global vive sua metamorfose mais dramática. E o protagonista tem nome: inteligência artificial.

A IA não está apenas crescendo – está canibalizando tudo. 

  • No Q3’25, startups de IA capturaram absurdos 51% de todo o funding global e 22% dos deals. Nos EUA, o domínio é ainda mais brutal: 85% do capital destinado à IA flui para lá, impulsionado por mega-rounds monstruosos como os USD 13 bi da Anthropic e USD 8,3 bi da OpenAI.
  • O mercado registrou USD 95,6 bi em funding no Q3 – quarto trimestre consecutivo acima de USD 90 bi – mas o número de deals caiu para o menor patamar desde 2016. Tradução: cheques maiores, carteiras mais seletivas, concentração extrema. Os decacorns (valuations de USD 10 bi+) levaram USD 94,5 bi só até setembro, o dobro de 2024 inteiro.

O efeito colateral é devastador. 

  • Retail tech e healthcare despencaram.
  • Fintech ficou flat.
  • A IA não está apenas crescendo, está sugando oxigênio de setores tradicionais
  • Em digital health, 63% do funding foi para startups de IA.
  • Em retail tech, 36%. Até em fintech, historicamente resiliente, a IA já domina 23% do capital.

O veredicto: estamos diante de um flight to quality brutal. Quem não surfa a onda da IA – seja em infra, agentes, modelos ou aplicações – fica à margem do maior ciclo de capital da história do venture.​​​​​​​​​​​​​​​​


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