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Private Equity América Latina: o pior trimestre desde 2020

Brazil 17 min read
Author
Luca Rossi

Private Equity América Latina teve um terceiro trimestre para esquecer (ou talvez para levar como lição). Na Q3’25, o fundraising derreteu para USD 307 bi (menor patamar desde 2020), com fundos locais se contentando com cheques modestos concentrados em logística doméstica.

Mas enquanto tudo isso acontecia, uma operação brasileira roubou a cena: a Serena Energia fechou take-private de R$ 5,1 bi, protagonizando um dos maiores deals do ano na região.

  1. O take-private da Serena cria um contraste brutal. De um lado, tensões geopolíticas e tarifas americanas congelam apetite por risco. Do outro, infraestrutura de energia renovável prova que capital existe, mas só para teses estruturais que justifiquem risco-país e volatilidade cambial.
  2. E não é só no PE que a concentração aperta. O VC global replica o padrão com requintes de crueldade: mais dinheiro perseguindo menos startups. Early-stage levantou USD 20,8 bi em 2025, mas o número de rounds despencou para 1.714, queda de 41% versus o pico de 2021.
  3. Outros deals da quinzena incluem a compra de 21,71% da Usiminas, a venda da Usina Continental em mais um desinvestimento da Raízen e os R$ 521 mi em aquisições do Grupo Sabin.

Nesta edição, além de todos os deals da quinzena, destrinchamos como infraestrutura resiste, por que a Serena apostou no take-private, e o que a concentração brutal no VC diz sobre o futuro do capital de risco. 

Quer mais insights do backstage do M&A brasileiro? Se conecte comigo no LinkedIn e vamos conversar. 

Boa leitura.



Deals breakdown

Curadoria entre 28 de outubro e 11 de novembro.

Deals identificados: 29

DealIndustrySeller/CounterpartyBuyer/Investor
01

Fleury compra 100% do Laboratório Femme por BRLm 207,5.

Healthcare/Pharma

Laboratório Femme

Fleury

02

XP Asset adquire a Augme e reforça plataforma ‘high-yield’.

FIG

Augme

XP Asset

03

Indicium e Mesh-AI anunciam fusão para acelerar consultoria em dados/IA.

TMT

Mesh-AI (UK) & Indicium [Fusão]

[N/a]

04

WakeCap adquire a brasileira Trackfy e cria vertical global de monitoramento.

TMT

Trackfy

WakeCap (Arábia Saudita)

05

Espaçolaser converte 4 lojas em franquias e levanta BRLm 6,6.

Services

Espaçolaser (alienação de lojas próprias).

[N/a]

06

NSTech compra a Runtec para compor seu ‘WeChat da logística’.

TMT

Runtec

NSTech

07

Quantum (Brookfield) compra 50% da CYMI na Pampa Transmissão.

Energy

CYMI Brasil (Cobra IS / Vinci)

Quantum/Brookfield (FIP Brasil Energia)

08

Guararapes vende o Midway Mall, em Natal, por ~BRL 1,6 bi (MOA).

Real Estate

Guararapes

Capitânia e co-investidores (consórcio)

09

Grupo Sabin investe BRLm 521 em aquisições e expande no Tocantins.

Healthcare/Pharma

Laboratório Bonamigo

Grupo Sabin

10

Coalition adquire a provedora de MDR Wirespeed (valor não divulgado).

TMT

Wirespeed (BR).

Coalition (EUA)

11

SLC e FIPs do BTG firmam acordo para SPEs de terras (50,01%/49,99%).

Agribusiness

BTG Pactual

SLC Agrícola (50,01%) + FIPs (49,99%)

12

Zanlorenzi adquire a marca de bebida ‘Jurupinga’ e amplia portfólio.

Consumer

Jurupinga

Zanlorenzi Bebidas

13

Copel vende 4 usinas de GD por BRLm 78 e sai do segmento para a Thopen.

Energy

Copel GD (ativos de geração distribuída).

Thopen Energia

14

Ventos Alísios compra 64,8% da Serena Energia por BRL 5,10 bi (OPA).

Energy

Serena Energia (free float)

Ventos Alísios

15

Armac compra 60% da Engelog Fornecedora por BRLm 15.

Industry

Engelog Fornecedora

Armac

16

Multiplan compra mais 7,535% do BarraShopping por BRLm 362,5.

Real Estate

Sócio minoritário (não divulgado).

Multiplan

17

BC aprova venda da SCD da Provu a Vinicius G. Cipullo e Holditsafe.

FIG

Provu (SCD).

Vinicius Garcia Cipullo & Holditsafe Financeira

18

Zscaler adquire a SPLX para reforçar segurança em IA (valor não divulgado).

TMT

SPLX.

Zscaler

19

Buddha Spa compra a marca Pomander por BRLm 4,8.

Services

Pomander

Buddha Spa

20

Raízen vende a Usina Continental para o Grupo Colorado por BRLm 750.

Energy

Raízen

Grupo Colorado

21

Rede D’Or vende a Maternidade Star para a Atlântica D’Or por BRLm 223.

Healthcare/Pharma

Rede D’Or São Luiz

Atlântica D’Or

22

Siguler Guff compra 20% da gestora Lass Legal Capital (valor não divulgado).

FIG

Lass Legal Capital

Siguler Guff

23

Controlador da Ambipar reduz participação para 53,26% após venda em mercado.

Industry

Opportunity

[N/a]

24

Nippon Steel vende 21,71% da Usiminas para a Ternium.

Industry

Nippon Steel

Ternium

25

Carrefour monetiza 22 imóveis via sale-leaseback (compradores não divulgados).

Real Estate

Carrefour Brasil

[N/a]

26

Phenix (BR) adquire participação na italiana Binet Sul Liri Engineered Fabrics.

Industry

Binet Sul Liri (IT)

Phenix (Brasil)

27

Founders Club compra o Angel Investor Club e supera 1.100 membros.

FIG

Angel Investor Club

Founders Club

28

Artefact (FR) compra a gaúcha Finor, consultoria de IA para finanças.

TMT

Finor

Artefact (França)

29

H&CO adquire a Inovage (parceira SAP Business One) e planeja expandir serviços.

TMT

Inovage (fundadores não divulgados).

H&CO


Private Equity na América Latina: Infraestrutura resiste enquanto o fundraising patina

O terceiro trimestre de 2025 deixou claro que o PE na América Latina segue no modo sobrevivência. Dados levantados pela última edição pelo Pulser KPMG revelaram que tensões geopolíticas e incertezas sobre tarifas americanas são fatores que continuam a pressionar o mercado, especialmente em países com alto volume de exportações para os EUA. E, nesse contexto, Brasil e México estão na linha de frente.

Fundraising em queda livre

Os números não mentem: o capital levantado nas Américas caiu para USD 307,1 bi em Q3’25 (rolling 12 meses), o patamar mais baixo desde 2020. O número de fundos também recuou para cerca de 550, marcando uma retração consistente desde o pico de 2023, quando ultrapassou 1.000 fundos ativos.

Deal activity: o jogo dos modestos na América Latina

A atividade de deals em 2025 projeta fechar em torno de USD 918,7 bi (TTM Q3’25), abaixo dos USD 1,02 tri de 2024. O número de transações também segue em queda, com cerca de 9.000 deals no ano, longe dos 12.500 de 2021.

A movimentação ficou concentrada em fundos locais, com cheques modestos e foco em logística e transporte doméstico. Nada de megadeals, nada de barulho. O jogo estava em manter o básico funcionando.

Infraestrutura: a ilha de resiliência

Aqui está o ponto interessante. Enquanto setores como TMT e Consumer & Retail perdem tração, Infrastructure & Transport mantém participação estável tanto em número de deals quanto em valor. O setor representa consistentemente 15-20% do deal value desde 2019, mostrando que ativos de infraestrutura seguem como porto seguro em tempos voláteis.

Energy & Natural Resources também mantém presença relevante, especialmente quando olhamos para o pipeline de transição energética e ESG, temas que continuam atraindo capital paciente.

O gráfico abaixo mostra como Infrastructure & Transport mantém 15-20% do deal value de PE nas Américas entre 2019-2025, mostrando resiliência setorial enquanto TMT e Consumer & Retail perdem participação.

Com exits ainda tímidos na região (quase toda a movimentação concentrada nos EUA com USD 224,6 bi em aquisições e USD 149,1 bi em buyouts até Q3’25) levantar capital novo virou maratona

Os LPs estão seletivos, os GPs estão cautelosos, e a infraestrutura, historicamente um porto seguro, precisa provar retorno em cenário de juros altos e volatilidade cambial.


Private Equity América Latina: enquanto mercado patina, a Serena Energia protagoniza um dos maiores take-privates do ano

A Ventos Alísios Participações Societárias adquiriu 64,8% do capital social da companhia — 403 milhões de ações ordinárias — por BRL 12,63/ação, totalizando BRL 5,10 bi. Após o leilão, a Ventos Alísios passa a controlar 96,1% da Serena, com apenas 3,9% permanecendo em free float.

Por que isso importa?

Primeiro, infraestrutura de energia segue atraindo capital, mesmo em cenário adverso. Enquanto o fundraising de PE nas Américas derreteu para USD 307 bi (menor patamar desde 2020), ativos de infraestrutura — especialmente em energia renovável — mantêm apelo para investidores de longo prazo.

Segundo, o fechamento de capital revela muito sobre a estratégia. A Serena deixa o Novo Mercado da B3 e converte seu registro de categoria “A” para “B” com objetivo claro: simplificar estrutura corporativa, ganhar flexibilidade operacional e aumentar capacidade de investimento em projetos greenfield e brownfield no Brasil e EUA.

Traduzindo: ficar na bolsa virou custo sem benefício. Com valuations comprimidos e custo de capital alto, o mercado público perdeu sentido para uma tese de crescimento que exige paciência e capital paciente.

O timing não é coincidência

Lembra dos gráficos anteriores mostrando Infrastructure & Transport mantendo 15-20% do deal value de PE desde 2019? A Serena se encaixa perfeitamente nessa narrativa.

Energia renovável representa aposta estrutural em transição energética, tema que segue atraindo capital institucional mesmo quando o mercado de M&A esfria. E mais: com exits travados nos EUA e poucos IPOs no radar, take-privates viram rota de saída viável para quem precisa reorganizar estrutura e fugir da pressão trimestral da bolsa.

O contraponto

Enquanto a América Latina sofre com fundos locais fazendo deals modestos em logística doméstica, a Serena fecha uma operação de BRL 5,1 bi (um dos maiores cheques do ano na região).

Isso reforça a tese: capital está disponível para ativos de qualidade em setores estruturais. O problema não é falta de dinheiro, é falta de teses convincentes que justifiquem o risco-país e a volatilidade cambial.

E agora?

Com a simplificação da estrutura, a Serena ganha musculatura para competir no mercado de energia renovável — tanto no Brasil quanto nos EUA. A aposta é clara: crescimento via M&A de projetos, sem a pressão do mercado público e com horizonte de investimento mais longo.Para o mercado de PE na América Latina, fica o recado: infraestrutura e energia seguem sendo o jogo. O resto é barulho.


Private Equity América Latina vs VC Global: dois mundos, mesma concentração

Enquanto o Private Equity na América Latina patina com fundraising em queda e deals modestos, o Venture Capital global vive paradoxo similar: mais dinheiro, menos empresas.

A matemática da concentração

Os dados da Carta são brutais: em early-stage venture, o capital levantado cresceu de USD 17,7 bi (2023) para USD 20,8 bi (2025), mas o número de rounds despencou de 1.852 para 1.714 no mesmo período.

Tradução: cheques maiores para cada vez menos startups. Quem levanta, levanta muito. Quem fica de fora, fica mesmo.

O gráfico abaixo mostra como o early-stage VC mostra USD 20,8 bi em capital levantado em 2025 versus 1.714 rounds, evidenciando concentração: mais dinheiro perseguindo menos startups comparado aos picos de 2021-2022.

O paralelo com PE América Latina

Lembra do fundraising de PE nas Américas caindo para USD 307 bi no Q3’25 — menor patamar desde 2020? O VC replica o padrão: concentração extrema em poucos nomes.

IA domina o foco setorial, crescimento de talentos desacelera mesmo em empresas bem financiadas, e capital permanece concentrado no Bay Area. Menos deals, cheques maiores, teses mais estreitas — tanto em PE quanto em VC.

Secundários: prêmio para os eleitos

Aqui está a reviravolta: enquanto IPOs reabrem timidamente a valuations reduzidos, o mercado secundário direto negocia prêmios.

Anthropic lidera com valuation secundária 13% acima do último round primário. Databricks, Stripe e Revolut também negociam a valuations superiores aos rounds primários. Do outro lado, Scale AI, Figure AI e Canva aceitam descontos significativos.

O gráfico mostra como o mercado secundário de VC mostra Anthropic, Databricks e Stripe negociando acima de últimos rounds primários, enquanto Scale AI e Canva aceitam descontos significativos versus valuations primários.

Entre as top 100 empresas privadas, o desconto médio caiu para 14,1% — metade do início do ano. O que era nicho virou indústria de USD 60+ bi, oferecendo liquidez sem IPO.

M&A e o retorno dos megadeals

Assim como infraestrutura mantém 15-20% do deal value de PE (vide Serena com R$ 5,1 bi), o M&A global ressurge forte: Q3’25 com alta de 25,6% em valor e 3,8% em deals — trimestre mais forte desde 2021.

No ano: 37.000+ transações, USD 3,4 tri. Megadeals (USD 1+ bi) representam metade do valor global — 435 transações, USD 1,7 tri.

A lição para a América Latina

Enquanto Private Equity na LATAM sofre com incertezas geopolíticas e tarifas americanas, o VC global mostra que capital existe para teses estruturais. O problema não é dinheiro — é convicção.

Infraestrutura e IA atraem capital mesmo em cenários adversos. Para a América Latina, o desafio é construir teses que justifiquem o risco-país e a volatilidade cambial.


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Intenções e Estratégias

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Fundraising

TMT

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